A fórmula da felicidade feminina parece ser alcançar uma declaração de amor, que possua o encaixe tridimensional das palavras “eu” “amo” “você”, ou ainda com a variação do “te” em substituição ao “você”.
Diferente do “eu te amo” dos casais de mais tempo que é usado como sinônimo de “tchau” ou “até logo”, aquele primeiro “eu te amo” que sai da boca como que rasgando a alma, este, em regra, é o sonho de consumo dos apaixonados.
Eu sei que parece descomedidamente poético, mas a mulher que nunca se derreteu implorando pelo amor de um alguém que atire o primeiro ursinho de pelúcia amassado e encharcado de lágrimas!
Regra fundamental ao mundo feminino moderno, no entanto, é que você procure não ser boba o suficiente para ir se antecipando em apaixonar-se antes dele, quanto mais a querer imaginar filhos logo que ele propor que vocês namorem.
Na verdade, eu já estava pensando nisso (essa coisa de estar amando) desde a primeira vez que dormimos juntos, parece um mantra clitoriano a mulher amar o cara com quem ela acaba de ter uma noite maravilhosa!
Esperei ele adormecer, estava lá o admirando e confessei meu amor por ele, foi ótimo, fiquei aliviada em dizer na presença dele e em voz alta aquilo e com a tranquilidade de não espantar o bonitão.
Não estamos namorando e nos conhecemos a pouco tempo, então tudo estava perfeito.
Acontece que, depois de uns dias dando a ele um pouco do veneno da indiferença, estrategicamente sumindo e tendo compromissos sem poder lhe dar atenção, nos encontramos e ele de repente, não mais que de repente, descobriu que eu era importante para sua vida.
Ele estava com uma nuvem estranha no olhar, não me perguntem como é isso, mas eu vi que estava me olhando diferente, levemente mais sério do que normalmente.
Estava mais carinhoso, atencioso e meloso que normalmente também. Já estava ficando apreensiva e resolvi perguntar o que estava acontecendo.
Ele fez um discurso que pouco me recordo, mas sei que o eixo principal era sobre se preocupar em me agradar, em me deixa a vontade e, após um longo silêncio, até bem confortável, ele olha pra mim e diz rapidamente “eu amo você”!
Começou a tocar na minha cabeça a Marcha Imperial – tema do Darth Vader, com sinos do instrumental tema do E.T. (não me pergunte por qual motivo, isso nunca tinha acontecido comigo).
Senti em parte feliz e em parte sufocada, queria sair correndo da frente dele, fugir gritando que ele era maluco. Não que eu não tenha gostado, mas em parte parece ter perdido a graça o fato dele ter me falado aquilo.
Numa só definição? Senti-me um homem na frente de uma menina, no momento em que ela acaba de fazer uma declaração de amor! Coisa mais estranha do mundo: comecei a respirar com dificuldade, a ter um troço, fiquei ofegante!
Ensaiei dizer que o sentimento era recíproco, mas ficou bastante parecida com poesia feita por uma criança que rima amor com céu e limão com abraço apertado. Foi nesse ponto que decidi que eu era o Darth Vader e ele o E.T.!
Não posso dizer propriamente que não gostei, porque fiquei feliz, mas não estou querendo vê-lo. Acho que preciso de um tempo para pensar melhor sobre isso!
Sei que isso pode soar anti-romântico, mas acho que eu preferiria que ele tivesse me levado pro motel com aquele ar misterioso e depois me deixado em casa sem falar muito, isso teria sido bastante excitante e hoje eu estaria cantarolando “Teus Sinais” do Djavan e não Marcha Imperial!!