Sob o Sol da Toscana
Por Mafalda - 7 de setembro de 2010. Categorias: Sofá da Mona.
O final de um casamento é sempre um episódio de extrema dor e é em meio a esse vendaval e ao sentimento de luto que conhecemos Frances, uma escritora e crítica literária norte-americana residente em São Francisco. O que vemos Frances amargar é passado todos os dias por milhares de mulheres pelo mundo. Afinal, sacanagem e injustiça são coisas universais (infelizmente), assim como o fato do mundo dar voltas (felizmente).
A força da amizade se reafirma nos momentos de dor. Mobilizada pelo sofrimento da amiga, Patti (Sandra Oh) presenteia Frances com uma viagem à Itália, mais exatamente pela maravilhosa Toscana. A viagem é um tour gay de dez dias (sim, você leu certo e sim, Patty é lésbica). No início de uma gestação, Patti é desaconselhada por sua parceira (e médica) a viajar. Uma relutante, porém saturada, Frances aceita o presente.
Durante a viagem, os olhos atentos de Frances se deparam com a oferta de uma propriedade de 300 anos em precário estado de conservação denominada “Bramasole”. O nome pode ser entendido como “algo que anseia pelo Sol”.
Impulsionada por uma conversa com uma estranha que encontra eco em seus sentimentos e anseios, Frances acaba comprando a propriedade, abandonando sua excursão.
Simbolicamente, “Bramasole” diz muito sobre o coração daqueles que amargam o luto, a desilusão e a perda de horizontes. A dor da perda nos lança inevitavelmente a um estado de solidão e abandono. É tão extrema que pode condenar muitos a uma existência amarga e descrente pelo resto de seus dias. Para outros, todavia, pode ser um momento de repensar crenças e valores, de “reforma” e reconstrução do modo de ver o mundo, as pessoas ao nosso redor e as relações. Um momento em que não há mais nada a perder a não ser o medo que as conteve até então. Frances se questiona o tempo todo, sente medo, mas este não a paralisa.
Frances no momento em que chega a Bramasole.
A barreira da língua e da cultura força a protagonista a ser mais atenta a outras maneiras de se comunicar e de compreender o mundo e as pessoas. O filme, classificado como “romance”, é permeado de momentos cômicos. O humor é refinado, irônico e sensível. Talvez resultado da visão que só uma mulher madura pode ter frente a certas questões. A idiossincrasia italiana faz o resto (a cena de negociação da propriedade, da contratação do empreiteiro para a reforma e a de um jantar para qual Frances é convidada descrevem bem o espírito italiano).
O melhor da vida vem de modo não planejado, quando se deixa a cabeça arejada e o coração aberto e livre de preconceitos. Se preservarmos nossa capacidade de encantamento pela vida e construirmos pontes (ao invés de muros), coisas e pessoas boas poderão se aproximar. Não é jornada fácil e a metáfora com a reforma de Bramasole (embora óbvia) funciona. Encontramos muita coisa a ser consertada, mas também podemos ter boas surpresas durante o processo. O filme tem um roteiro bem amarrado e despretensioso, com atuações delicadas e inspiradas, além de pequenas surpresas em seu desenrolar. Rendeu uma indicação de melhor atriz no Globo de Ouro à Daine Lane (que eu adoro porque além de ótima atriz, é uma das poucas que ao levantar as sobrancelhas forma rugas na testa – coisa rara na era do Bottox…E que a torna mais bonita aos meus olhos).
Frances se encanta com as paisagens italianas (sacou?).
Pra quem curte ler: o filme foi inspirado no livro “Sob o sol da Toscana: em casa na Itália” de Frances Mayes (1999), que relata o período de obras de sua propriedade na Itália. Há um segundo livro, chamado apenas “Sob sol da Toscana” (2008) que é mais centrado na região, seus recantos e gastronomia (incluindo com receitas). Um roteiro que eu adoraria seguir numa viagem. Páginas e páginas regadas a bom azeite e vinho, com refeições preguiçosas sob a sombra das árvores e referências à obra de grandes escritores. O filme está em cartaz este mês na HBO ou a qualquer momento na videolocadora mais próxima.
Capa do DVD e detalhe da atual edição do primeiro livro.
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7 de setembro de 2010 às 20:02
Olá Juliana, concordo com todos os seus comentários sobre o filme. Adorei esse filme, pela sensibilidade e pelas questões que trata a respeito de como precisamos sempre reconstruir nosso interior. A casa simboliza aquilo que temos dentro, aquilo que nos protege e nos faz sentir inteiros e de pé frente a realidade e as vicissitudes da vida. Deparar-se com as rachaduras, as teias de aranhas,o que está podre e ruindo, eis o movimento que temos fazer diariamente para nos livrarmos daquilo que nos aprisiona, do que é velho, e nos amarra. Ver as coisas de uma nova maneira, com outras cores, isso é vida, é a renovação do nosso espirito, é festejar com mais força e valorizar ainda mais o que fizeram por nós os nossos pais. Abraço iaradegani
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Ju Teófilo Resposta:
setembro 7th, 2010 ás 22:53
@iara degani Que lindo comentário, Iara! Sim, precisamos estar sempre nesse movimento interno de “reforma” contínua. É o que nos torna melhores para o outro e para nós mesmos. É preciso coragem, mas as paisagens da jornada recompensam. Bjs.
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9 de setembro de 2010 às 17:33
Amei a coluna.
Eu simplismente amo esse filme e sou louca para conhecer Toscana, por causa do filme.
Quem sabe, depois do casamento, consiga ir com meu amado.
Bjs milll
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Ju Teófilo Resposta:
setembro 10th, 2010 ás 12:28
@Áurea Midori, Se a Tosacan for tudo que é mostrado no filme, periga vcs nem quererem retornar rsrsrs
Se for com o amado, conte-nos depois!
Abs
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