Porque fazer humor e podcast é uma arte
































A deprê televisiva de Natal



Por Mafalda - 21 de dezembro de 2010. Categorias: Mona POP, Sofá da Mona.

Sou dessas pessoas que, se pudessem, seriam sedadas nas festas de final de ano e só despertadas em janeiro. O que posso fazer se final de ano me deprime? Apesar de sempre agradecer por tudo de bom que recebo etc e tal, sou daquelas cujo coração insiste em lembrar dos que se foram (alguns cedo demais) e dos que daqui a pouco não estarão mais ali. Então, final de ano é um ar diferente pra mim, desses densos, difíceis para respirar.

Aí você enfia a cara na TV. Vamos nos distrair pra não deprimir tanto. Péssima idéia. Na TV, toneladas de comerciais com Papai Noel fofinho (não aqueles do shopping), fatias de panetone lindas e úmidas, mães e crianças se abraçando e papais felizes por ganhar uma gravata te relembram o tempo todo da época em que está e a dona deprê chega junto firme.

Então, ao longo de mais de trinta anos em frente à TV nas festividades natalinas e de passagem de ano, fui exposta a doses altíssimas de alguns filmes e programas. Síntese da neurose que comanda nosso comportamento costumo adotar a mesma postura sempre que me deparo com tais programas, a mesma que adoto em relação a confraternizações de final de ano. Eu odeio, mas acabo participando. E ao participar, reafirmo meu ódio e me prometo nunca mais passar por aquilo. Mas esqueço em nos onze meses subseqüentes, então…
Elenquei alguns venenos de final de ano, dos quais poucos chegaram incólumes até agora.

Especial do Roberto Carlos
Quando eu era adolescente, Roberto Carlos era o resumo do cantor “chique-mamãe” (termo que empresto da Portuguesa e da Sra. Jovem Nerd porque define tudo). Cresci revirando os olhos para sua canastrice, santas e seus ternos azuis Miami Vice.

Só que o que me parece é que muitos que cresceram comigo se esqueceram o quanto também detestavam e hoje ouço esse mesmo povo chamando o cara de “Rei” em clima de apreciação. Quando esse povo muda de gosto assim? Quando casa? Tipo “bem, eu casei, agora devo estar mais velho e então devo gostar de Roberto Carlos”? .

Não importa. Todo ano o cara grava um show com participações do que estiver na moda (qualquer coisa mesmo, até Calcinha Preta já rolou), canta com cara de sofrido e depressivo (como sempre), joga o queixo pra frente naquela mordida de lhasa e aparece com o mesmo cabelo, que ficou fora de moda na década de 70.

Curiosamente, tudo em Roberto Carlos parece ser perdoado. Suas manias, sua demagogia, sua devoção-maníaca, suas gírias obsoletas e os momentos calculadamente piegas de “emoção”. O que mais me constrange é quando tentam passar uma imagem de que ele é do povo, que aprecia a cultura do homem simples. Roberto Carlos pode ter vindo de um lugar simples, mas cá entre nós, não se mistura faz muito tempo. Sim, o cara tem músicas geniais, mas essa produção de qualidade foi minguando com o tempo. Infelizmente, até o valor de sua obra se compromete com esses especiais.

Filmes geradores de culpa
A lista é grande, mas todos filmes são uma variação do mesmo tema: você, basicamente, deveria ser alguém melhor. A mensagem é essa afinal.

Então, se você se mata de trabalhar pra conquistar alguma coisa, recebe a mensagem de que deveria ter ficado mais com a família. Se é totalmente dedicado à família, recebe uma mensagem de que deve ter outros objetivos também.

Pais, mães, filhos, avós e netos. Se nos basearmos nesses filmes, ninguém está cumprindo seu papel familiar direito. E se você não gostar de Natal… talvez nem tenha salvação! Mini-lista pra se afundar: “Fantasma de Natal”, “ Esqueceram de mim”, “Grinch”, “O Milagre na Rua 34” (ou De ilusão também se vive), “A Felicidade Não se Compra”, “Rudolph, a rena do nariz vermelho”, “Conto de Natal”, “Simplesmente amor”, “Anjo de vidro”, etc …

Restrospectiva
O ano foi difícil e conturbado. Teve dias que você rezou para o tempo passar e deixar para trás algumas coisas. Não adianta. Se você assistir uma Retrospectiva da Globo, prepare-se para afundar.

Quando eu vejo o placar com o ano e o Sérgio Chapelen, já sei que terminarei o programa com aquele nó na garganta. Você terá que reviver momentos trágicos como incêndios, enchentes, tsunamis, guerras, assassinatos, seca no Nordeste, miséria, gripe suína, morte de celebridades, eleição do Tiririca…

Tudo com cenas em câmera lenta e música pesada pra te fazer chorar. Quando você não agüenta mais tragédia, eles relembram que nasceu um panda no zoológico nos cafundós ou um bebê que foi resgatado com vida de um desabamento, simbolizando a esperança da vida e jogando uma pá de cal no seu astral.

PS: Feliz Natal a todos!


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12 Comentários to A deprê televisiva de Natal

  1. @bookeatingboy

    Olha,

    já faz uns três anos que não assisto mais TV. Só filmes e seriados escolhidos a dedo, que não são da TV para evitar os comerciais.

    Me atualizo exclusivamente pela internet.

    Confesso que tenho tido uma vida mais tranquila. Me concentro no que devo fazer e pronto. Nada de distrações.

    E desse periodo para cá, tenho notado que o Natal e o Fim de Ano não é uma época especial. É só um final de semana a mais, em que somos culturalmente obrigados a sair sorrindo e desejando feliz natal e feliz ano novo para todos, como se houvesse uma divisão fática deste para aquele ano, que faria toda a diferença.

    É fácil, não. Analise comigo: durmo no ano de 2010 cansado, cheio de problemas, com minhas tristezas e rotina. Do nada, acordo em 2010 renovado, com soluções para meus problemas, feliz e cheio de metas! Não é bem assim.

    Então pensem que se for para você mudar para melhor, que este procedimento seja uma constante, que dure o ano todo, todos os anos. E não caia na ilusão de que um ano novo fará de você uma pessoa melhor.

    Comentem.

    Um abraço,

    [Responder]

    Mafalda Resposta:

    Luis, acho que podemos dividir esta visão do Natal, do Natal comercial e as massas, e o Natal espiritual e pessoal, em que vai do olhar de cada um sobre sua vida, suas escolhas e crenças.

    O Natal pra mim, sempre foi além de toda esta roupagem comercial, e tem um valor espiritual e alegre.

    Pra quem não é religioso, realmente o Natal não é especial, não é nada, assim como aquilo que o originou, a razão da sua existência.

    Valeu o comentário e a reflexão, Luis.

    Abraços

    [Responder]

    @bookeatingboy Resposta:

    @Mafalda,

    Gostaria somente de esclarecer que quando disse que o Natal era somente mais um final de semana, de forma alguma quis dizer que não devemos nos desligar totalmente das nossas crenças e religiões.

    Somente quis passar a idéia que durante 11 meses do anos ninguém para para pensar na vida ou em ser solidário com quem precisa. Até educação falta. Daí é Natal e todo mundo sai dizendo que devemos nos respeitar, nos ajudar, etc.

    Façam isso o ano todo e pronto.

    :)

    Um abraço.

    [Responder]

  2. Gilmar Lopes

    Assisto pouco à TV! Ontem, por coincidencia, vi no intervalo que o Jornal da Globo iria exibir uma matéria sobre uma briga filmada por um celular – dentro do metro de São Paulo. Fiquei curioso em saber porque um jornal de tamanha abrangencia (como é o Jornal da Globo) trataria de uma briga lastimável, uma briga totalmente descabida, ao invés de tratar de assuntos mais “sérios” e importantes. Para minha surpresa, essa foi logo a primeira matéria. A apresentadora do telejornal encabeça a notícia mais ou menos assim: “Onde está o espírito natalino? Em plena época de Natal, duas usuárias do Metrô se estapeiam!”.
    De fato, a briga foi uma coisa vergonhosa: Uma moça sentada em um lugar reservado não quis sair do banco para dar a uma idosa e as duas saíram no tapa. Horrível, mesmo! Mas, a minha dúvida é: Se não fosse época de Natal, o Jornal da Globo teria dado tanta importância ao assunto? Acho que não! Brigas como essa acontecem toda hora e são até filmadas! É só procurar no Youtube! Acredito que a TV tende a ficar (ou espera que fiquemos) mais sentimentalista nessa época do ano e isso tem a ver com os patrocinadores. Talvez, com a culpa, passaremos a
    comprar mais, a consumir mais e, presenteando as pessoas, estaríamos expiando nossas culpas. Alguém concorda? Discorda? Parabéns pelo texto. Sou cada dia mais seu fã!

    [Responder]

    @bookeatingboy Resposta:

    @Gilmar Lopes,

    “O que é relevante pra você, será que é pra outros?

    É interessante observar como esses assuntos ganharam relevância nacional.

    Hoje em dia tem muito mais a ver com o espetáculo e a ideologização dos discursos do que com qualquer outra coisa.

    A televisão precisa desse conteúdo “relevante”.

    Vamos considerar o seguinte: a definição de “relevância” – numa sociedade em que Zilda Arns perde para Brittany Murphy, Tom Jobim perde para o Latino, Paulo Autran perde para Marcos Pasquim e Machado de Assis perde para Paulo Coelho – é relativa.

    A relevância é relativa.”

    São palavras de @lucianopires em seu Café Brasil.

    Escute e despocotize-se:

    http://www.portalcafebrasil.com.br/dlog/sobre-relevancia-e-perspectivas

    [Responder]

  3. Mafalda

    É Gilmar, tem isso. Mas eu acho válido, pelo menos em alguma época estimular a reflexão e a caridade das pessoas. Como a Euba disse na Rádio, na verdade, deveria sempre ter isso,e não só no Natal. Mas não tem, e nessa vida corrida, consumista, não temos tempo para parar e pensar em nada.
    Pelo menos, em algum momento, podemos parar e pensar…. mas não deveria ser só em uma data, uma coisa forçada. Enfim…
    Bjs

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  4. Gilmar Lopes

    É aí que eu queria chegar. Será que em pleno carnaval essa notícia passaria no Jornal da Globo? Apesar de não ser religioso, considero o Natal uma época propícia para lembrarmos que é preciso que aprendamos no quanto é legal ser bom! Seria muito melhor se isso fosse feito o ano todo, né?

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  5. Ruz

    Muito bom o texto, Ju! Agora eu vou reservar o resto do mês pra me sentir culpado por comprar um macbook enquanto o Macaulay Culkin ficou sozinho em casa, a xuxa abraçou uma criança, o edward mãos de tesoura tem uma fábrica de chocolates, mas não uma família, o didi pela bilionésima vez dispara extintor de incendio em todo mundo no especial fim de ano, etc..

    Apesar de tudo, acho legal ter uma época em que incentivam a gente ser legal com os outros, só pra variar, apesar de eu tentar sempre ser legal, até mesmo com os atendentes que estão com raiva de mim por querer algum serviço tarde.

    Feliz Natal, Monalisas, esse ano foi maravilhoso pra mim porque conheci vocês!

    [Responder]

    Ju Teófilo Resposta:

    @Ruz, Ah que amor! Obrigada! Ria alto aqui com vc dizendo “ter uma época em que incentivam a gente ser legal com os outros, só pra variar,(…)! rsrsrsrs Mas é meio isso mesmo! Bjs e feliz Natal! Continue com a gente em 2011!

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  6. Ju Teófilo

    Pessoal, fiquei mega feliz pelos comentários de altíssimo nível! Que coisa boa ter esse retorno inteligente e reflexivo, concordando ou não com o que se escreve por aqui.
    Quando penso na raíz de tudo, acabo sempre no culto da imagem pela nossa atual sociedade. O deus moderno é a mídia. Por esse deus as pessoas fazem qualquer sacrificio. Na época do Natal não seria diferente. O Natal midiático nada tem em comum com o Natal gostoso que marca a gente ou com o sentimento que trazemos no coração.
    Talvez o reportagem da briga, num outro olhar, mostre-nos que apesar de nos vestirmos de vermelho e verde e decorarmos tudo com neve artificial e papais noel, nossas atitudes e modo de ser não combinam com a imagem do que achamos ou gostaríamos de ser. Eu já vi muito isso: uma casa lindamente decorada de Natal, mas sem nenhum clima de harmonia e felicidade verdadeira. Só um clima de “ter que festejar” meio obrigatório. Por outro lado, já estive em festas muito simples, mas com tamanha harmonia que, mesmo sem haver qualquer decoração, o espírito de Natal era visível! bjs

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    Mafalda Resposta:

    É que nem amigo secreto e festa de final de ano em empresas, em que todos estão felizes e se amam, mas por dentro um quer matar o outro, não Ju? kkkkkkkkkkk

    Mas veja só, se não tivesse isso, nem este texto teria.

    Nossa sociedade “esfriou” para estas questões. E talvez só se aqueça nesta época, e olha lá.

    E, relembrando a história do metrô, muitas jovens hoje em dia são como aquela música do Lennon: “só acredito em mim mesmo!”
    Não aspiram valores e nem seguem aquilo que falavam filósofos gregos, Jesus, Gandhi, Martin Luther King, ou até mesmo o Yoda. =D
    Pra mim, o deus moderno não é mais o meio ou a mídia. O ídolo não é mais aquele, e sim o próprio homem, olhando pro seu umbigo, querendo ele mesmo ser adorado em sua ignorância. Dane-se a velhinha ao lado, que quer sentar.

    bjs

    [Responder]

  7. @bookeatingboy

    Mafalda,

    Só para nao dizer que sou insensível ao Natal, eu como Hobby, tiro fotos para a minha paróquia.

    Todas as fotos deste blog são minhas:

    http://auxiliadoraweb.wordpress.com/

    :)

    [Responder]

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