Uma crônica de Natal
Por Phoebe - 26 de dezembro de 2008. Categorias: Cantinho das Monas.
Meados dos anos 80. Eu, muito pequena ainda, aguardava pela chegada do Papai Noel desde o final de novembro. Lembrava dos anos anteriores e esperava ansiosamente pela repetição do momento mágico, o ponto alto da noite de Natal: durante a ceia na casa do vovô, todos à mesa, um leve sininho tocava lá fora. Aos pulos, corríamos para a porta na expectativa de flagrar Papai Noel saindo sorrateiramente, mas desistíamos da idéia ao verificar que, ao lado dos sapatinhos que havíamos deixado no quintal, encontravam-se os presentes que havíamos pedido em nossas cartinhas.
A dinâmica da noite de Natal era sempre a mesma, uma rotina doce e conhecida, o que me fez acreditar que cada família deveria criar suas próprias tradições em datas especiais e mantê-las no decorrer dos anos. Na cozinha, o cheiro divino dos alimentos que comporiam a nossa ceia. As crianças, indóceis, correndo pela cozinha enorme da casa do avô, divertindo-se com martelos e nozes (em uma época em que as nozes não eram vendidas já sem a casca).
Cada pessoa da família tinha seu papel definido. O vovô, coitado, muitas vezes funcionava como babá dos netos, levando-os para a pracinha central da minúscula cidade. Nunca desconfiamos, mas hoje vejo que era nesse momento de folga que nossos pais desentocavam os presentes que o Papai Noel deixaria na varanda mais tarde. A mãe passava o dia inteiro na cozinha preparando a ceia, ora cantarolando alegremente músicas de Natal, ora deixando escapar lágrimas que sabíamos ser de saudade. Saudade da vovó, que partira alguns anos antes e, até então, representava aquele papel principal: o de cozinheira oficial da ceia de Natal. Ao pai cabia a função de distrair a criançada e aplacar a ansiedade geral (“essa ceia que não fica pronta nunca”, “esse Papai Noel que não chega”). A ele incumbia também toda a ginástica necessária para manter viva a crença no bom velhinho. Durante a ceia, pedia licença para “ir ao banheiro” e, longe da nossa vista, pulava a janela para tirar os presentes de seu esconderijo e deixá-los na varanda, ao lado dos nossos sapatinhos. Certa vez atendeu ao pedido do meu irmão e entregou exatamente o que ele havia pedido: “uma piscina cheia de água”. Montou uma daquelas piscinas antigas, feitas com madeira, forrou-a com a lona e a preencheu com água, tomando todo o cuidado para não fazer barulho.
Tudo pronto, bastava aguardar pelo sininho do Papai Noel e lá estava a criançada toda satisfeita, já iniciando a contagem regressiva para o Natal do próximo ano.
Corta a cena. Agora estamos em meados dos anos 2000, aguardando ansiosamente pela chegada do Papai Noel. Não eu, que já não sou mais aquela garotinha. Agora represento outro papel, o da mãe da criança que aguarda a chegada do bom velhinho. Já não temos mais o nosso avô; agora quem representa esse papel é o meu pai, o vovô da única garotinha da casa.
Durante a ceia, toca um sininho lá fora. A família inteira pula da mesa, incentivando minha filha de 3 aninhos a correr para a varanda. Ela congela na porta de saída, exatamente como eu fazia quando era pequena. Nem preciso perguntar, já sei o que ela sente: medo de sair depressa demais e encontrar Papai Noel por lá ainda. Eu a asseguro de que ele já partiu e só então ela corre para ver o que foi deixado ao lado do seu sapatinho, sorrindo ao ver uma caixa grande e colorida.
Volto meus olhos para o passado e percebo que os atores mudaram e permanecerão mudando sempre, e isso é bom, traz uma sensação de conforto e paz. Um dia serei eu a levar meus netos para a pracinha da cidade na noite de Natal.
Beijos da Phoebe!
26 de dezembro de 2008 às 18:03
Que linda crônica, Phoebe!! Você e seu poder de emocionar as pessoas, no momento, esta amiga. :´)
Beijo e um grande abraço.
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27 de dezembro de 2008 às 0:39
adoro essas historias. meus pais nunca fizeram isso comigo mas farei com meus filhos =)
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27 de dezembro de 2008 às 1:05
Fiquei com os olhos marejados. Lindo.
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27 de dezembro de 2008 às 12:35
Repito o que o ou a V disse,
Nunca tive isso com meus pais, mais farei com os meus filhos…
Linda história…
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27 de dezembro de 2008 às 13:13
Que bela história Phoebe! =)
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27 de dezembro de 2008 às 20:04
História muito bonita, me fez recordar ótimos momentos de infância. Parabéns!
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27 de dezembro de 2008 às 21:03
Eu nunca tive muito esse sentimento do Papai Noel na família, essa fantasia não era muito incentivada…
mas tenho vontade de fazer isso um dia com os meus filhos, pois esse sentimento é lindo. Belo post Phoebe!
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30 de dezembro de 2008 às 7:17
Eu já tive de me fantasiar de Papai Noel na minha família… eu era muito novo e não soube curtir o momento (tinha uns 23 anos…).
Atualmente não temos mais crianças com idade de acreditar em Papai Noel, mas é uma época muito bonita da infância mesmo, saudades!
PS: a passagem sobre a mãe chorando saudades da avó é muito meiga!
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