Porque fazer humor e podcast é uma arte
































Categoria: MonaCine


Mona Cine: Thelma Schoonmaker


Autor: Mafalda ~ 2 de julho de 2009. Categorias: MonaCine.

Cortar. Colar. Projetar. Por muitos anos assim foi o ofício de muitos editores (ou montadores) da indústria cinematográfica, que recolhiam dezenas de latões com rolos e rolos de películas, cortava-os, colava-os, inseriam o som, créditos e tudo mais que fosse necessário para transformar tudo o que o diretor captou com sua câmera em um belo filme. Hoje com a digitalização do processo tudo ficou aparentemente mais fácil, porém grande técnica, destreza e talento são ainda necessários por parte do editor, afinal o filme nasce na sala de edição, é ali que pode ser definido se teremos uma obra-prima capaz de captar nossa atenção em cada segundo editado ou não.

Para um trabalho tão íntimo não é a toa que os grandes diretores escolhem a dedo seu editor e podem trabalhar com os mesmos por diversos filmes. É o caso do diretor Martin Scorsese e da editora Thelma Schoonmaker que trabalham há 35 anos juntos. Praticamente todas as obras-primas de Martin passaram pela mão de Thelma, ou podemos dizer que Thelma as transformou em obras-primas ou pelo menos foi uma grande responsável por isso?


Na foto acima: Thelma e Martin Scorsese

Nascida na Argélia em 3 de Janeiro de 1940, Thelma em sua juventude imaginava uma vida profissional com carreira diplomática, tendo estudado na faculdade o curso de Ciências Políticas. Viveu em diversos países do globo e durante anos se encontrou totalmente alheia da cultura americana, principalmente a cinematográfica. Porém durante o apartheid na África do Sul suas convicções políticas e profissionais foram abaladas e ela abandonou a diplomacia para cursar Artes nos Estados Unidos.

Durante esta época, ao procurar por trabalho, viu no jornal The New York Times um anúncio para assistente de edição de filmes, conseguindo o emprego. O trabalho de Thelma consistia em editar filmes europeus de Fellini, Truffaut ou Godard para que eles coubessem no tempo estipulado para exibição nas emissoras de TV norte-americanas. Com a experiência, acabou se matriculando em um curso de cinema na Universidade de Nova Iorque onde conheceu Scorsese de forma inusitada: Martin estava com dificuldade para editar seus trabalhos, que consistiam em pequenos curtas, e como Thelma era uma excelente aluna um de seus professores pediu que ela o ajudasse na edição destes trabalhos. Iniciava-se a parceria que 20 anos  que depois daria a Thelma Schoonmaker o Oscar de melhor edição por Touro Indomável (1980). Ela ainda receberia o prêmio máximo do cinema hollywoodiano por O Aviador (2004) e Os Infiltrados (2006). Por suas mãos passaram A Última Tentação de Cristo (1988), Os Bons Companheiros (1990), Kundum (1997), Gangues de Nova Iorque (2002) e tudo mais que passou pelo olhar da câmera de Martin Scorsese.

E não foi só no campo profissional que Scorsese projetou Thelma, no pessoal também. Não, não estou insinuando qualquer envolvimento amoroso entre os dois. O que ocorreu é que o Scorsese apresentou para sua editora o diretor do longa E Um dos Nossos Aviões Não Regressou (1942) Michael Powell. Eles se casaram em 1984 e a relação durou até 1990 quando Powell veio a falecer.

Hoje Thelma Schoomaker está com 69 e pelo visto qualquer indício de aposentadoria está descartado, pois neste momento ela está na pós-produção de Shutter Island, novo longa de Scorsese que tem previsão de estréia para Outubro deste ano no país. Finalizo este texto com uma fala da editora que resume seu trabalho: “Editar requer paciência e disciplina. Há momentos em que você desliga a máquina e vai para casa a noite porque você está frustrada e deprimida, e quando você volta de manhã estará lá para tentar de novo mesmo assim.”


Mona Cine: Conheça a Diretora Lucrécia Martel


Autor: Mafalda ~ 24 de junho de 2009. Categorias: MonaCine.

Lucrécia Martel: La hermana directora

Lucrécia Martel nasceu no dia 16 de dezembro de 1966 na província argentina de Salta. Sempre com uma câmera na mão durante a adolescência, gostava de sair filmando, mas as suas obras audiovisuais iniciais não passavam de vídeos de encontros sociais familiares. Após terminar o colégio foi morar em Buenos Aires para cursar faculdade de Comunicação e com o tempo foi compondo sua carreira com curtas e programas para a televisão.

Foi quando no ano de 1999 ela inscreveu o roteiro de O Pântano no Sundance/NHK Filmaker Award, se consagrando vencedora. Com o dinheiro do prêmio pode finalmente tirá-lo do papel e lançá-lo em filme no ano de 2001. O Pântano apresenta a máxima expressão da dissolução das relações familiares e da apatia dos cidadãos argentinos. Todos os personagens estão reclusos numa evidente decadência moral e existencial. Tudo é muito úmido, apertado e sufocante. A trilha sonora é pontuada de barulhos incômodos como cadeiras se arrastando, crianças berrando, o telefone que ninguém nunca atende, a televisão eternamente ligada e o gelo tilintando nos copos. Os personagens se tocam o tempo todo e mesmo assim há uma clara repressão incestuosa no ar. Poderíamos dizer que tudo isso é também uma metáfora da burguesia argentina, usando como modelo a classe média da província de Ciénega, título original do filme.

No ano de 2008 a Revista Bravo! lançou uma edição especial com 100 Filmes Essenciais e lá estava, na 93º posição, O Pântano de Lucrecia Martel, o único de toda a lista dirigido por uma mulher. Com tamanha consagração no meio cinematográfico e pela crítica, seu segundo longa, A Menina Santa (2004) teve produção do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, diretor renomado de Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos (1988), Tudo Sobre Minha Mãe (1999), Volver (2006) entre outros. O longa conta de uma jovem adolescente que vive uma paixão por um homem muito mais velho, um renomado médico que irá participar de um congresso que ocorrerá no hotel da qual sua dona é a mãe da tal menina santa. Além da questão sexual e familiar que se assemelha a O Pântano, o ambiente úmido também esta presente. Assim como no primeiro longa o segundo também tem uma escura piscina na qual os personagens mergulham em cenas que despretensiosamente parecem querer esquecer de tudo que está ao seu redor.

A cineasta argentina foi uma das convidadas ‘mais que especiais’ da última edição da FLIP (Feira Literária Internacional de Paraty), sendo muito assediada pela imprensa brasileira em diversas entrevistas. Numa delas concedida à Revista O Grito! ( clique aqui para ver a entrevista ) Lucrecia renega toda e qualquer classificação dada a seus filmes ou à possíveis interpretações simbólicas feitas pela crítica, afirmando categoricamente: “Não há metáforas em meus filmes. As pessoas têm mania de procurar símbolos em tudo”. Além disso a diretora afirmou que na América Latina há um preconceito em relação as profissionais do sexo feminino no meio cinematográfico, mas que mesmo assim muitas mulheres se destacam por serem corajosas e batalhadoras. Na mesma época da feira, Lucrécia estava lançando seu último filme A Mulher Sem Cabeça (2008) que ainda não entrou em cartaz no circuito brasileiro.

Lucrécia Martel com apenas 42 anos possui uma carreira recente quase consolidada sem negar as influências em seu trabalho dos cineastas que admira. Além de admirar muito do cinema de seus colegas argentinos como Pablo Trapero, Ana Poliak e Diego Lerman, também possui uma ligação grande com o cinema de John Woo, com o estilo místico de Ingmar Bergman e com a transgressão de Pedro Almodóvar, além da grande influencia pela sua própria história familiar. Pois é, aqueles vídeos caseiros familiares não foram tão em vão assim…


Mona Cine – Lillian Gish: Musa do Cinema Mudo


Autor: Mafalda ~ 18 de junho de 2009. Categorias: MonaCine.

Mona Cine é a nova coluna da Monalisa de Pijamas, onde iremos falar de Cinema: desde criticas a filmes, à atrizes, diretoras, artistas da 7a. arte!  E quem estará sempre por aqui, deixando suas ricas impressões é a nossa nova colaboradora Mariana Bonfim, do blog Movie You.

Lillian Gish: Musa do Cinema Mudo

Lillian Gish nasceu em 14 de outubro de 1893 na cidade norte-americana de Springfield, estado de Ohio (qualquer lembrança de Simpsons é mera coincidência). Quando Lillian ainda era apenas uma criança, seu pai abandonou a ela, sua mãe e sua irmã. Aos 5 anos Lillian atuou em sua primeira peça de teatro passando boa parte da infância e início da adolescência viajando pelos Estados Unidos em companhias teatrais, utilizando todo dinheiro que ganhava para sustentar a ela e a família.

Durante as turnês teatrais pelos Estados Unidos, Lillian e sua irmã conheceram a atriz Mary Pickford, da qual se tornaram amigas. Em Junho de 1912 Dorothy e Lílian foram a um Nickelodeon (cinema antigo em que se pagava 1 níquel para ver um filme) York e para seu espanto a amiga do teatro estava no filme. Desta forma as duas irmãs, juntamente com a mãe foram até o “American Mutoscope and Biography Company” procurar pela atriz.

Neste reencontro as irmãs confidenciaram a Mary Pickford o quanto estava difícil encontrar papéis para elas no teatro, ela então sugeriu que tentassem trabalhar no cinema, onde poderiam ganhar bem e ainda continuar procurando por peças ou trabalhos como modelo. Reiterando a iniciativa, Mary se retirou para chamar por D.W. Griffith, apresentando as irmãs para o famoso diretor norte-americano. Griffith enfatizou que elas poderiam ser excelentes atrizes teatrais, mas que as falas, tão importantes no teatro, não o eram no cinema, necessitando então testar a expressão corporal das irmãs, pois a beleza das mesmas já seriam garantia de muitos níqueis de bilheteria. Começava a partir daí uma parceria de mais de 41 obras cinematográficas em que ela seria dirigida por ele.

Na maioria dos filmes Griffith soube utilizar plenamente a aura de Lillian para desenvolver a imagem da verdadeira heroína sofredora, simbologia esta que por muitos anos foi utilizada em diversas obras da indústria cinematográfica hollywoodiana. Hoje como bem sabemos a tão bem conhecida pose de “mocinha sofredora” foi substituída pela da mulher forte, sexy e corajosa como a Fox de O Procurado (2008) interpretada por Angelina Jolie, ou até mesmo Elektra, Tempestade, Jean Grey entre outras heroínas do universo Marvel que já foram parar na grande tela.

Nos idos de 1914 as críticas nos jornais sobre os filmes e a interpretação de Gish nestes foram muito positivas e a fama chegou de forma surpreendente rápida a ela, em uma época em que não havia internet, televisão ou mesmo uma mídia impressa consolidada para espalhar a foto de famosos com tanta rapidez. O que ocorreu é que o belo rosto de boneca de Lillian Gish estava se tornando familiar à medida que o filme era exibido pelas cidades norte-americanas nos já citados Nickelodeons. Mas os admiradores não sabiam para onde enviar suas cartas expondo suas impressões, pois a idéia de escrever para a atriz de um filme parecia estranha e sem sentido à época. Com o tempo os jornais e revistas começaram a fornecer o endereço dos estúdios e os fãs puderam escrever para suas estrelas. Lillian começou então a receber diversas cartas e para sua surpresa muitas eram de crianças. É de exercitarmos a imaginação do ocorreria com Lillian em uma época em que ela facilmente poderia ser seguida pelo Twitter por qualquer um que a admirasse.

Em 1915 Griffith dirigiu o filme considerado o mais polêmico por muitos críticos e estudiosos do cinema, “The Birth of a Nation” (O Nascimento de uma Nação) por tratar de forma preconceituosa o surgimento da Ku Klux Klan. A parte das polêmicas, o filme tem sua dose de romance em que Lillian protagoniza uma cena de beijo com o mocinho, estrategicamente filmada ao longe com apenas um selinho rápido. Bem diferente das tórridas cenas de sexo que vemos até em filmes da Sessão da Tarde.

A consagração de Lillian Gish como a atriz mais famosa do cinema mudo se deu em 1919 com “Broken Blossons” (Lírio Partido). Neste filme ocorre o amadurecimento profissional de Lillian ao interpretar Lucy, uma garota de 20 anos que apanha brutalmente do pai alcoólatra. Um dia após uma terrível briga, Lucy escapa do quarto em que fica trancada e sai correndo pela rua louca de dor e terror. O chinês Cheng Huan a encontra e a acolhe em seu quarto deitando-a com uma boneca. O pai descobre e vai atrás da filha. Assustada Lucy foge de volta para casa, se escondendo no closet. O pai então quebra a porta e a espanca até a morte. O chinês invade a casa, mata o pai e carrega o corpo de seu “lírio partido” até uma espécie de altar, onde enfia um punhal no coração morrendo sobre o corpo da amada. Um drama tão trágico como esse pode nos ajudar a compreender ainda mais o quanto por muitos anos a repressão da mulher heroína sofredora era atrativo de bilheteria.

Mas no meio de tanto machismo característico da época em seus papéis, mesmo assim Lillian Gish foi pioneira. Ela aprendeu de forma tão efetiva as técnicas de filmagem e criação de histórias com o diretor D.W. Griffith, que o seu dom e talento a colocaram como uma das primeiras diretoras da história do cinema. Em 1920 ela dirigiu a irmã Dorothy Gish e o cunhado James Rennie no filme “Remodeling her Husband”, cuja cópia está infelizmente perdida.

Após a década de 30, com o fim do cinema mudo e início do cinema falado Gish retornou sua carreia ao teatro. O último longa em que atuou foi no ano de 1987 em As Baleias de Agosto”  dirigido por Lindsay Anderson. Gish viria a falecer em 1993 com quase 100 anos de idade, quase com a mesma idade da sétima arte que tanto a consagrou.






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