Porque fazer humor e podcast é uma arte
































Categoria: Sofá da Mona


A TV da minha infância


Autor: Mafalda ~ 12 de outubro de 2010. Categorias: Mona POP, Sofá da Mona.

Filha da década de 70, vivenciei o aumento do espaço tomado pela TV em nosso cotidiano à medida que crescia. Acredito que guardei essas recordações porque são carregadas de sentimentos: eram momentos em que partilhava algo com pessoas que amava.
Então, a idéia aqui não analisar programas infantis ou algo assim, mas dividir com vocês alguns dos programas que curti na infância. Preparados? Então, vamos ao meu TOP 10:

10. Desenhos Hanna-Barbera

Sempre um clássico, depois ultrajado por sua tosca versão cinematográfico, Os Flintstones era um desenho repleto de referências da cultura pop. É divertido até hoje.

Verdadeira paixão na minha infância era o desenho Jonny Quest, lembra?


09. Barbapapas (da TV Globinho)

Criação francesa, a Familia Barbapapa passava na TV Globinho com apresentação da jornalista Paula Saldanha. Aliás, o TV Globinho era bem legal!

08. Sítio do Pica Pau Amarelo

Há várias ‘gerações” da famosa obra de Monteiro Lobato, mas para mim a “verdadeira” contava com Zilka Salaberry como Vó Benta e Rosana Garcia como Narizinho. Foi assistindo a versão televisiva que tive vontade de ler toda obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato.

07. Musicais nacionais

Ainda sobre o Sítio do Pica Pau Amarelo, um dos musicais mais bacanas de nossa geração foi o Pirlimpimpim. Aqui, vemos a Baby Consuelo (sim, esse era seu nome então) em justa homenagem ao alter-ego de Monteiro Lobato, a boneca Emília (a visão de Baby Consuelo caracterizada de Emília pode abalar os mais sensíveis…rsrs)

Se você quiser verificar se alguém já passou dos 30, basta dizer baixinho “Plunct, Plact, Zum…” Sério, a pessoa automaticamente continuará a canção! E se você não conhece ou não se lembra, aqui vai mais esse tesouro de Raul Seixas, o Carimbador Maluco (detalhe para a menina loura de cabelos curtos. É a Aretha, filha da cantora Vanusa, em seu único trabalho digno de registro)

Um dos galãs da minha infância era do pai do Fiuk, o Fábio Jr. Aqui, ele participava do musical “Amigos do Peito” do Balão Mágico, grupo infantil que estourou na década de oitenta (e aí bate aquela vergonha alheia ao ver o que virou a garotinha Simony anos mais tarde…).

06. Armação Ilimitada

Malhação?! Que nada! A onda na nossa infância era acompanhar o seriado Armação Ilimitada, protagonizado pelos então jovens surfistas e dublês de atores Kadu Moliterno e André de Biasi ao lado da atriz iniciante Andrea Beltrão. Muito humor nonsense, retrato do melhor dos anos 80.

05. As Panteras

Nove em 10 meninas queriam ser uma das Panteras (e uma não devia ter TV para não conhecer a série). Glamorosas, inteligentes, lindas e agentes especiais, eram uma síntese da mulher independente e ousada que começava a ganhar força na mídia. Quem nunca brincou de ser uma das Panteras? (Eu queria ser sempre a Kelly).

04. Turma do Lambe-lambe
Em uma era pré-louras, quem arrebentava era o Daniel Azulay e aprendi a desenhar várias coisas acompanhando seu programa. Pita, Xicória, Prof. Pirajá e outros personagens criados pelo desenhista aguçaram minha imaginação. No trecho abaixo, o próprio Daniel comenta aquela época e os avanços tecnológicos que nos encantaram.

03. Balão Mágico
Programa infantil comandado pela cantora mirim Simony, que de fato era uma gracinha. Foi no programa Balão Mágico que conhecemos os engraçado Fofão, uma espécie de alienígena meio homem, meio cachorro, que falava errado e tinha bochechas imensas. Castrinho também ajudou na apresentação durante um período, assim como a priminha de Simony (Luciana) e o Tob (integrante do Balão Mágico). Além dos desenhos animados, o ponto alto era o sorteio de cartas (pois é, não existia e-mail!) para algum prêmio. Aqui, a vinheta de apresentação mais famosa.

02. Xou da Xuxa

Nunca fui fã da Xuxa, nem mesmo quando era criança. Mas era no programa dela que iam nossos cantores e passavam os melhores desenhos. As Paquitas e suas coreografias também eram legais. Nessa época, eu saia correndo da escola para chegar em casa a tempo de assistir He-Man e She-Ra, a cereja do bolo do programa que, invariavelmente, terminava com Xuxa entrando numa nave

01. Caverna do Dragão
Desenho de inspiração nerd (só soube isso anos depois) que tornou-se cult, em parte pelas muitas interpretações sobre seu enredo e personagens. Reza a lenda que o grupo de garotos perdidos em um mundo mágico estaria de fato mortos e presos numa espécie de purgatório ou umbral ou algo assim. Quando eu assistia, eu não pensava em nada disso. Eu só não entendia porque toda vez em que achavam um portal para retornar para casa, sempre eram atrapalhados pelo filhotinho de unicórnio Uni (e por que não deixavam Uni lá mesmo?). Aqui a abertura original.

Eu poderia escrever uma lista gigantesca, uma coisa vai puxando a outra, mas tentei me ater apenas aos programas mais marcantes da minha infância. Na adolescência, minha preferência foi definitivamente conquistada pelos humorísticos (Viva o Gordo, TV Pirata, Chico Anysio Show – bons tempos) e a paixão por desenhos animados se transformou em amor, que cultivo diariamente.
E você? Tem programas de TV que marcaram sua infância? Então conta para a gente pelos comentários!

Selo peixe Grande 2010


“O que é a beleza?” – Concursos de beleza em revista


Autor: Mafalda ~ 6 de outubro de 2010. Categorias: Mona POP, Sofá da Mona.

Já se perguntou o que é a beleza? Você seria capaz de definir o que há nas pessoas que você classifica como bonitas? Há algum elemento comum em todas elas? Se já pensou um pouco e não conseguiu, não se preocupe… Nem Platão, nem Aristóteles foram capazes de chegar a uma conclusão!
Mesmo sendo uma qualidade tão abstrata, tão relativa, a beleza era fundamental para o poeta e uma característica desejada pela maioria das pessoas (Aliás, cá pra nós: a beleza era última coisa fundamental para as mulheres que se envolveram com esse poeta, porque ele era não era nenhum Brad Pitty…)
E aí chegamos numa outra particularidade da espécie humana: a mania de fazer concurso para tudo. Não basta ser uma moça bonita, tem que ganhar o concurso de modelo ou miss ou ser a top número 1. Tem que ser a mais bonita do universo. Por que? Pra que? Se o mercado da busca pela beleza consegue movimentar bilhões pelo mundo, essa deve ser uma questão essencial em nossas mentes. E talvez por esse motivo, tantas pessoas no mundo tenham a beleza estética como sinônimo de felicidade, poder e chave para o sucesso.
Pensando um pouco sobre concursos de beleza e o valor que atribuímos a este aspecto tão volátil, aqui vai uma breve lista de filme/série/desenho com várias abordagens sobre a insana disputa (se você lembrar de mais algum título, indique nos comentários).

PARA NÃO PENSAR
Quer coisa mais relaxante que um filme totalmente descartável, que te faz dar umas risadas e pronto?! Nesta categoria, indico Miss Simpatia (2000) com a Sandra Bullock. Em minha opinião de especialista em filmes tipo “sessão da tarde”, Miss Simpatia 1 é melhor que o 2 (Miss Simpatia 2- Armada e Poderosa, 2005). Mas, se a idéia for só ter uma desculpa para comer pipoca e se dissociar da realidade cruel do mundo lá fora, vá em frente e encare os dois títulos numa mini-maratona. Nos dois filmes, Sandra Bullock interpreta Gracie Hart, agente do FBI. Para investigar um atentado terrorista, ela se infiltra como candidata a miss no primeiro título. Na seqüência, a agente vira uma espécie de celebridade, o que inviabiliza continuar seu trabalho sob disfarce e acaba se tornando um tipo de embaixadora do FBI na mídia. Todavia, quando seus amigos são seqüestrados em Las Vegas, a agente entra novamente em ação.

PARA QUEM GOSTA DE DESENHO ANIMADO (como eu)
Temos um da Turma da Mônica, bem engraçadinho. Cebolinha e Cascão resolvem promover um concurso de beleza entre as garotas do bairro (mais um “plano infalível” – como sempre). Quando assisti, pensei o quanto esta questão da beleza virou uma preocupação tão cedo na vida. Pobres criancinhas… pobres meninas, já envolvidas em disputas e rivalidades desde o berço!

PARA PENSAR UM POUCO
Falando em desenho animado, Os Simpsons também tocaram no assunto dos concursos de beleza no episódio Lisa, a Rainha da Beleza. Homer inscreve Lisa em um concurso de beleza para meninas de 7 a 9 anos (Little Miss Springfield – em uma paródia ao último filme desta lista) patrocinado por uma marca de cigarros (sim, super politicamente incorreto). Apesar da crise por não se julgar bonita, Lisa resolve participar para agradar ao pai e mergulha num universo perverso e maluco em que vale tudo para ser a menina mais bonita e talentosa da cidade. Uma crítica debochada aos concursos mirins que são uma verdadeira febre nos EUA e ao marketing sem escrúpulos da indústria do cigarro (e outros produtos) que buscam captar novos consumidores. Bart está particularmente engraçado no episódio, ajudando no treinamento da irmã. Referências mil como sempre.

O final do ensino médio nos EUA (o famoso high school) é uma verdadeira prova de fogo para qualquer adolescente fora dos padrão estético imposto pela sociedade. No filme Uma Rainha Diferente (Queen Sized, 2008), Maggie (Nikki Blonsky de Hairspray- o filme) é uma garota obesa e com poucos amigos, constantemente zoada pela turma dos “populares” da escola. Em uma brincadeira maldosa, essa turma a elege Rainha do Baile. Maggie, no entanto, resolve levar a coisa a sério e adiante. Produção para adolescentes feita para TV, que busca levantar algumas questões para reflexão, como a aceitação do diferente, o rígido padrão de beleza imposto e a ilusão que a vaidade alimenta. Embora não se deva esperar interpretações primorosas, a transformação de comportamento da protagonista durante a trama é interessante.

PARA PENSAR (E RIR) MUITO
Pequena Miss Sunshine (dos diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris – 2006) foi aclamado no festival Sundance, Meca do cinema independente. Não à toa. Atuações impecáveis e roteiro inteligente. O filme mostra a jornada de uma família norte-americana para levar sua caçulinha a um concurso de beleza infantil (Little Miss Sunshine). A candidata em questão, só é chamada porque a vencedora legítima teve problemas com remédios emagrecedores. Sim, aos 7 anos de idade. Ironicamente, sua sucessora usa grandes óculos, é meio gordinha, ligeiramente desajeitada e tem como “coreógrafo” o avô, que resolveu aproveitar a terceira idade com mulheres e drogas. Juntam-se aos dois um pai que batalha para vencer no mercado da auto-ajuda e motivação, apesar de não ser um exemplo de sucesso, um tio homossexual que tentou o suicídio recentemente, um garoto adolescente em pleno voto de silêncio e uma mãe, à beira de um ataque de nervos, tentando conciliar e unir todos os membros de seu clã. Para conduzi-los na longa viagem ao concurso, uma Kombi velha. As personagens da trama têm algo em comum: a falha, o fracasso em algum objetivo. Estão fora do padrão hegemônico vendido pelo sonho americano, fruto da ditadura do sucesso e da perfeição estética. Não por acaso, encerro essa breve lista com Pequena Miss Sunshine. Sua abordagem sobre o concurso de beleza mirim, diz muito sobre a gênese de seus análogos adultos. É fácil prever (e lamentar) a trajetória de suas vencedoras (?!) e a desesperadora projeção de seus pais “incentivadores”, competidores predadores da infância de seus filhos. Por esse motivo é delicioso curtir a apresentação de nossa candidata fora do padrão, a reação dos presentes e de sua própria família (hilária e comovente). Meninas preparadas e transformadas para tais concursos absorvem a mensagem de que, sendo quem são naturalmente, nunca terão sucesso e não serão “felizes”. Pequena Miss Sunshine expõe o patético de uma sociedade pequeno-burguesa obcecada pelas aparências e pelo conceito materialista e raso de sucesso, que aplaude sorrisos protéticos e apliques de cabelo sintético em crianças erotizadas transformadas em objetos. Mostra uma sociedade em que o vencedor não questiona. Apenas almeja e celebra a alegria burra e superficial fruto da regressão, alienação e idiotização. Seu objetivo é sempre ter o “gramado” melhor que o do vizinho (ou a filha mais “perfeita”, pelo menos aparentemente…).


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Selo peixe Grande 2010


As 5 melhores cenas de Karokê do Cinema


Autor: Mafalda ~ 29 de setembro de 2010. Categorias: Mona POP, MonaCine, Sofá da Mona.

Eu sempre tive uma certa vontade ou curiosidade de cantar em Karokê, mas sei que não tenho voz para isso. Eu realmente não tenho voz, nem afinação! Assim, como sempre imaginei em dançar com Gene Kelly … aquela insanidade que teima habitar na sua cabeça, mas que você tem consciência do impossível. Se virasse realidade, seria um ótima vergonha alheia no You tube.

O Cinema faz isso conosco, é culpa dele nós sonharmos com coisas impossíveis. Porém, é prazeroso ver estas cenas e se embalar com elas.

Aqui, as 5 melhores cenas de Karokês do Cinema.

O CASAMENTO DO MEU MELHOR AMIGO – a melhor “#putafaltadesacanagem” que a personagem da Julia Roberts fez com a tímida e envergonhada ” Kimmy ” de Cameron Diaz. Nem deu tempo para a menina tomar uma caipirinha antes. :)

THE CABLE GUY - Jim Carrey aloprando (que novidade!) com a música “Don´t you want somebody to love”

DUETS - linda a interpretação da música Free Bird.

ENCONTROS E DESENCONTROS ( LOST IN TRANSLATION )
Bem lembrado pela colaboradora Jú Teófilo, como deixar de fora este excelente filme que se passa no Japão, país do Karaokê!?

DUETS - passei a ver “cor” em Gwyneth Paltrow depois de ouvi-la cantando com Huey Lewis (já falei que amo Huey Lewis?) antes mesmo de ver a cena do filme. Lindo o dueto deles e minha cena preferida!

Menção Honrosa para:
Shrek - O Karaokê do Shrek é tão divertido quanto o filme! Adoro!

E você, acha que estão são as 5 melhores cenas de Karokê no Cinema, ou trocaria alguma destas cenas por outro filme que não está na lista?

Beijos,
Mafalda


Bastardos Inglórios – e se você pudesse mudar a História?


Autor: Mafalda ~ 28 de setembro de 2010. Categorias: MonaCine, Sofá da Mona.


Capa do DVD lançado no Brasil

O cenário é a II Guerra Mundial e seus horrores ímpares.
Não há nenhuma guerra sem dor ou perdas, mas a II Guerra foi marcada por apresentar ao mundo novas fronteiras da crueldade e pela personificação/concretização da loucura maligna na figura e no projeto hegemônico de Adolf Hitler. Foram milhões e milhões de vidas exterminadas. Judeus eram as vitimas principais, mas também deficientes, ciganos, homossexuais, eslavos, testemunhas de Jeová.
No cinema, na televisão e na literatura, a II Guerra já rendeu (e ainda renderá) inúmeras produções.

Em 2009, chegou a vez de Quentin Tarantino contar sua estória. Não importa o quanto um tema tenha sido explorado, Tarantino sempre consegue renová-lo com sua narrativa pop e esse é um dos motivos pelos quais seus filmes sempre detêm minha atenção. Vejo o diretor como um grande artista especialista em fazer colagens/montagens. Todas as referências cinematográficas (do western ao cinema francês) podem aparecer em qualquer filme seu, sem que isso destoe ou pareça forçado. Mistura pop refinada. Seus filmes trazem esse elemento comum: estilos, personagens, tempos, músicas, culturas e atores em uma overdose de referências (e quanto maior a bagagem do espectador, mais conseguirá identificá-las).

Preciso dizer que a trilha sonora é interessante também? Essencial para ditar o clima e o ritmo dado a certas cenas e uma assinatura dos filmes de Tarantino, que nunca faz escolhas óbvias. Neste, a trilha é assinada pelo italiano Ennio Morricone (Os Intocáveis; A Missão entre tantos). Há inserções de músicas modernas. Destaque para Cat People/putting out the fire de David Bowie na cena da maquiagem da personagem Shosanna. Genial.


A atriz Mélanie Laurent em cena memorável ao som de David Bowie.

Bastardos Inglórios se passa na França ocupada pelos nazistas. Shosanna Dreyfus (Mélanie Laurent) testemunha a execução de sua família pelo coronel Hans Landa (Christoph Waltz ganhou o Oscar por este vilão – aliás, do pior tipo: inteligente, frio e de fala mansa). A garota foge e anos depois a reencontramos em Paris na pele de uma cidadã francesa proprietária de cinema. Paralelamente, o tenente Aldo Raine (Brad Pitt – imprimindo as cores primárias e toscas que sua personagem exigia) comanda um grupo, denominado pelos inimigos de Bastardos, composto por judeus norte-americanos que estão na Europa com o objetivo de matar e escalpelar oficiais nazistas. Aliados à atriz/espiã alemã Bridget von Hammersmark (Diane Kruger- lindíssima), os Bastardos aderem a um plano dos aliados para derrubar os principais líderes do Terceiro Reich. Com o desenrolar da trama, todos se cruzam no cinema de Shosanna. Todavia, esta também arquiteta sua própria vingança contra aqueles que assassinaram sua família. Não busque no filme nenhuma fidelidade a fatos históricos ou preciosismo no trabalho de ambientação e caracterização da época. Para um filme de Tarantino, até que as cenas de violência são menos freqüentes (atenção, eu disse “para um filme de Tarantino”), mas são inevitáveis e até catárticas em alguns momentos (a parte final do filme justifica tais adjetivos).


Os Bastardos em ação e o vilão Hans Landa (destaque)

Roteiro bem amarrado, suspense na medida certa, senso de humor (com doses de sarcasmo) e elenco impecável, nas mãos criativas de um diretor com estética e linguagem próprias resultaram em uma trama que prende o espectador. Além disso, é um filme que depende de boas interpretações de seu elenco, aspecto que pessoalmente valorizo. Os diálogos são longos em algumas cenas, mas nunca desnecessários. A palavra é o principal “efeito especial” do filme. As experiências brutais, a dor e a impotência sofridas pelos que vivenciam uma guerra e o holocausto podem ser transformadoras e mudar os conceitos sobre o bem e o mal, o certo e o errado, subvertendo normas e regras sociais. Vale tudo para tentar mudar o rumo assustador que a História trilhou naquela época, incluindo missões visivelmente suicidas (e se você tivesse a chance, não faria o mesmo?). Bastardos Inglórios nos faz refletir. Em cartaz no canal Telecine (cabo) ou disponível em DVD.


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Selo peixe Grande 2010


Problema sem solução? Chame Os Simuladores!


Autor: Mafalda ~ 21 de setembro de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

Criação argentina, o seriado Os Simuladores teve duas temporadas produzidas por lá de 2002 a 2003. Depois, ganhou versões no Chile, na Espanha e no México. É a versão mexicana que é distribuída para toda América Latina, incluindo o Brasil (para nossa sorte). Então, aqui, podemos assistir pelo canal da Sony (cabo).
O argumento é simples: um grupo de quatro homens que usam todo o tipo de meios e contatos para resolver situações que, por meios convencionais, talvez não se resolvessem adequadamente ou em um prazo de tempo aceitável. Assim, os “simuladores” compõem uma espécie de agência. Basicamente, eles resolvem sua vida. E não há causa maior ou menor. Vale tudo: criança com problema escolar, mulher traída, dívida com agiota violento, espionagem empresarial… Uma característica chama atenção: os simuladores trabalham apenas para o lado que consideram ser “do bem”. Não é apenas uma questão de dinheiro, embora eles custem caro aos clientes. É preciso que eles aceitem o caso.


Vargas, Medina, Santos e López: eles solucionam qualquer problema e ainda são um charme!

Uma vez aceito o caso de um cliente, tudo pode acontecer. O cliente deve cooperar totalmente sem questionar. Relações, família, negócios, podres… tudo e todos podem ser envolvidos na solução da situação. Embora a ação principal dependa sempre dos quatro simuladores, inúmeras outras pessoas podem colaborar. Sempre há um colaborador que trabalha num hotel, um médico, um mecânico, uma faxineira… Ao longo dos episódios, algumas vezes percebemos que o colaborador foi um antigo cliente que, sem muita grana, foi auxiliado em troca de serviços futuros. E assim, eles contam com uma rede imensa e complexa de contatos que viabilizam suas ações.
Outro aspecto marcante é que eles armam uma situação para resolver a atual. Simula-se tudo: doenças, mortes, atentados, consulta médica, relações amorosas… Daí o nome da série. Cria-se uma espécie de realidade alternativa que conduza à resolução do problema na realidade verdadeira.
O quarteto de protagonistas é excelente. A equipe é composta pelas seguintes personagens: Mario Santos (Tony Dalton), o líder que traça os planos; Emilio Vargas (Arath de La Torre), um tipo de ator versátil, que interpreta diferentes personagens durante as operações; Pablo López (Alejandro Calva), homem de suposta formação militar/policial, encarregado da parte técnica da operação e Gabriel Medina (Rúben Zamora), o investigador, que levanta e reúne os dados necessários para que Santos trace a estratégia usada em cada caso. A química entre os quatro atores é perfeita e as pitadas de humor irônico/sarcástico aparecem na dose certa.


Todo episódio termina assim: os quatro caminhando na chuva de costas, saltando e batendo os pés.

Filmes e seriados em língua latina são raros na atual grade de programação de nossa TV a cabo. Em parte, essa pouca oferta se deve ao fato de haver certa resistência da audiência. Acostumados que fomos a seriados apenas na língua inglesa (até mesmo por falta de opção), é preciso vencer esse hábito e dar algum crédito para experimentar outras referências (culturais, estéticas, de humor). Todos para quem indiquei Os simuladores, de início torceram o nariz quando mencionei ser uma série mexicana. Compreensível. A associação com novelas toscas é direta e inevitável. Mas a produção televisiva latina é mais que isso e Os Simuladores podem convencer até os mais resistentes (E se você, como eu, já curte a língua espanhola, mas pensa que só existem Antônio Banderas e Javier Bardem, vai se derreter ao ouvir o idioma de Cervantes na voz grave e sedutora de Tony Dalton… prepare seus sais!).


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Selo peixe Grande 2010


New adventures of Old Christine – temporada final


Autor: Mafalda ~ 14 de setembro de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

Após o término de Seinfield, muita expectativa foi gerada em torno do destino de seus atores e criadores. O que viria após o genial seriado sobre o nada? As empreitadas fracassadas dos atores Jason Alexander (George Costanza) e Michael Richards (Cosmo Kramer) em seus próprios seriados acenavam um porvir desalentador. Afinal, víamos “George” e “Kramer” em outros ambientes e se relacionando com outras pessoas.
Quando ouvi falar do seriado The New Adventures of Old Christine (TNAOC), protagonizado por Julia Louis-Dreyfus, minha expectativa era uma mistura de animação e certa aflição. Seria ótimo rever “Elaine Benes”, mas sabia que seria por pouco tempo, dada a nuvem que parecia seguir os ex-integrantes de Seinfield. Acabei me surpreendendo positivamente: quando assisti Julia Louis-Dreyfus na pele de Christine, vi apenas Christine e não mais a antiga Elaine, mesmo sendo ambas personagens engraçadas.
O argumento de TNAOC não prima pela inovação. A história é aquela de sempre: mãe divorciada com filho pequeno, ex-marido que é amigo (para você ver que é ficção mesmo…), ex-marido que namora mulher mais jovem (… ficção sim, mas nem tanto!). Como a nova namorada do ex também se chama Christine, as personagens passam a se referir a ela como “the new Christine”. Nesta lógica, a protagonista é obrigada a amargar o fato de ser chamada de “old Christine”. Tudo que uma mulher na faixa dos 40 e recém-divorciada menos quer.

Julia Louis-Dreyfus é uma atriz excepcional e irretocável quando o assunto é comédia. Ela é capaz de te fazer rolar de rir, sem excessos, sem caricaturas e até mesmo sem falas. Sua atuação na 1ª temporada da série rendeu um Emmy de melhor atriz de comédia (2006). O mesmo talento pode ser atribuído à atriz Wanda Sykes que encarna Barb, a melhor amiga de (“old”) Christine (Wanda, aliás, está em cartaz na HBO com um stand-up imperdível- confira!). Essa dupla praticamente segura cada episódio e é o motivo pelo qual vale a pena assistir. O roteiro não é grande coisa? Esqueça. Ver TNAOC vale para ver a dupla Dreyfus-Sykes em ação, assim como assistíamos aos filmes de Jerry Lewis para vermos a dupla Lewis-Martin (Dean Martin) e não uma história elaborada e profunda.

New adventures of Old Christine
A dupla Dreyfus-Sykes em cena: risadas garantidas.

Embora a crítica especializada sempre tenha sido positiva desde o início, o fato é que o próprio argumento escolhido tende a se desgastar com o tempo. Ao longo das temporadas, o irmão da “old” Christine passa a morar com ela e a participação crescente de sua amiga Barb foram soluções buscadas para aumentar as possibilidades de tramas e subtramas, mas o fato é que, independentemente o talento de todos, o seriado sofreu com a irregularidade de uma fórmula limitada e batida e com números de audiência pouco animadores. Assim, esta é a temporada de encerramento de um projeto que durou 5 anos e 5 temporadas, num total de 88 episódios.

new adventures of old Christine DVD
DVDs lançados no Brasil: 1ª e 2ª temporada

Apesar do encerramento e do trajeto com altos e baixos, vejo TNAOC como um projeto de sucesso (porque nenhum sucesso é eterno, ainda mais em tempos de tendências tão voláteis). O mais bem sucedido, até agora, envolvendo atores de Seinfield e a demonstração do imenso talento e técnica da atriz Julia Louis-Dreyfus.
No Brasil, TNAOC é exibida pelo no canal a cabo da Warnner (reprises de episódios antigos todos os dias de manhã e episódios inéditos nas noites de quarta-feira). Em DVD, por enquanto, temos apenas as duas primeiras temporadas.


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Selo peixe Grande 2010


Rachel e Mônica do Friends juntas novamente


Autor: Mafalda ~ 8 de setembro de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

Quem amava a série Friends vai ter o gostinho de ver Rachel e Mônica juntas novamente! Mas calma que não é a volta do seriado mais famoso dos anos 90. E sim a participação de Jennifer Aniston na segunda temporada da série Cougar Town, protagonizada por Courteney Cox. A série trata da vida de um recém-separada de 40 anos, com um filho jovem.

E aqui, as primeiras imagens do encontro das duas atrizes, no episódio especial que será exibido no dia 22 de setembro nos States.


Vou soltar meu lado mulherzinha agora: A-M-E-I os modelitos da Jennifer!!

Assim como Courteney Cox, Jennifer Anniston continua lindona! Quando crescer quero ser linda assim também! :)

Beijos,
Mafalda

Selo peixe Grande 2010


Sob o Sol da Toscana


Autor: Mafalda ~ 7 de setembro de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

Fazer planos faz parte da vida de qualquer pessoa. Fazer planos a dois, um dos prazeres de uma relação. Mas ocorre que a vida nos prega peças (nem sempre de bom gosto) e, repentinamente, o chão que pisamos parece sumir sob nossos pés.
O final de um casamento é sempre um episódio de extrema dor e é em meio a esse vendaval e ao sentimento de luto que conhecemos Frances, uma escritora e crítica literária norte-americana residente em São Francisco. O que vemos Frances amargar é passado todos os dias por milhares de mulheres pelo mundo. Afinal, sacanagem e injustiça são coisas universais (infelizmente), assim como o fato do mundo dar voltas (felizmente).
A força da amizade se reafirma nos momentos de dor. Mobilizada pelo sofrimento da amiga, Patti (Sandra Oh) presenteia Frances com uma viagem à Itália, mais exatamente pela maravilhosa Toscana. A viagem é um tour gay de dez dias (sim, você leu certo e sim, Patty é lésbica). No início de uma gestação, Patti é desaconselhada por sua parceira (e médica) a viajar. Uma relutante, porém saturada, Frances aceita o presente.
Durante a viagem, os olhos atentos de Frances se deparam com a oferta de uma propriedade de 300 anos em precário estado de conservação denominada “Bramasole”. O nome pode ser entendido como “algo que anseia pelo Sol”.
Impulsionada por uma conversa com uma estranha que encontra eco em seus sentimentos e anseios, Frances acaba comprando a propriedade, abandonando sua excursão.
Simbolicamente, “Bramasole” diz muito sobre o coração daqueles que amargam o luto, a desilusão e a perda de horizontes. A dor da perda nos lança inevitavelmente a um estado de solidão e abandono. É tão extrema que pode condenar muitos a uma existência amarga e descrente pelo resto de seus dias. Para outros, todavia, pode ser um momento de repensar crenças e valores, de “reforma” e reconstrução do modo de ver o mundo, as pessoas ao nosso redor e as relações. Um momento em que não há mais nada a perder a não ser o medo que as conteve até então. Frances se questiona o tempo todo, sente medo, mas este não a paralisa.


Frances no momento em que chega a Bramasole.

A barreira da língua e da cultura força a protagonista a ser mais atenta a outras maneiras de se comunicar e de compreender o mundo e as pessoas. O filme, classificado como “romance”, é permeado de momentos cômicos. O humor é refinado, irônico e sensível. Talvez resultado da visão que só uma mulher madura pode ter frente a certas questões. A idiossincrasia italiana faz o resto (a cena de negociação da propriedade, da contratação do empreiteiro para a reforma e a de um jantar para qual Frances é convidada descrevem bem o espírito italiano).

O melhor da vida vem de modo não planejado, quando se deixa a cabeça arejada e o coração aberto e livre de preconceitos. Se preservarmos nossa capacidade de encantamento pela vida e construirmos pontes (ao invés de muros), coisas e pessoas boas poderão se aproximar. Não é jornada fácil e a metáfora com a reforma de Bramasole (embora óbvia) funciona. Encontramos muita coisa a ser consertada, mas também podemos ter boas surpresas durante o processo. O filme tem um roteiro bem amarrado e despretensioso, com atuações delicadas e inspiradas, além de pequenas surpresas em seu desenrolar. Rendeu uma indicação de melhor atriz no Globo de Ouro à Daine Lane (que eu adoro porque além de ótima atriz, é uma das poucas que ao levantar as sobrancelhas forma rugas na testa – coisa rara na era do Bottox…E que a torna mais bonita aos meus olhos).


Frances se encanta com as paisagens italianas (sacou?).

Pra quem curte ler: o filme foi inspirado no livro “Sob o sol da Toscana: em casa na Itália” de Frances Mayes (1999), que relata o período de obras de sua propriedade na Itália. Há um segundo livro, chamado apenas “Sob sol da Toscana” (2008) que é mais centrado na região, seus recantos e gastronomia (incluindo com receitas). Um roteiro que eu adoraria seguir numa viagem. Páginas e páginas regadas a bom azeite e vinho, com refeições preguiçosas sob a sombra das árvores e referências à obra de grandes escritores. O filme está em cartaz este mês na HBO ou a qualquer momento na videolocadora mais próxima.


Capa do DVD e detalhe da atual edição do primeiro livro.


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Selo peixe Grande 2010


Modern Family – e você acha sua família louca…


Autor: Mafalda ~ 31 de agosto de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

A série cômica Modern Family foi indicada em impressionantes 14 categorias no prêmio Emmy 2010. Levou três: melhor ator coadjuvante em série cômica, melhor roteiro de série cômica e melhor série cômica. Tendo em vista que a grande favorita era Glee (a febre do momento nos EUA), o feito parece ainda maior. E Modern Family ganhou porque mereceu.
A estrutura e as relações familiares sempre renderam assunto para os roteiristas de seriados. A unidade familiar parece funcionar bem para ambientar tramas cômicas e dramáticas. E Modern Family não inova nesse sentido. A fórmula é a mesma, mas o que conquista o espectador é ver como uma família moderna pode ser construída de relações não tradicionais, sem que isso seja fonte de conflitos inesgotáveis. Assim, há a mulher mais jovem (linda e colombiana) casada com o gringo branquelo bem mais velho, que assume o enteado com idade próxima de seus netos (o enteado é uma figura, um garoto gorducho e engraçado que lembra o Russell da animação Up). As crianças e adolescentes recebem um olhar sarcástico (em muitos momentos remetem às tiradas do desenho Family Guy), que motivam muitas gargalhadas. Há o irretocável casal gay, absolutamente aceito e integrado à família, tirando-lhe a aura de vítima. Obviamente que o casal adotou uma menina… chinesa (no melhor estilo Angelina Jolie-Brad Pitt). Os esforços para proporcionar a melhor criação, com preocupação exagerada com as chances e oportunidades de ascensão da criança, são os mesmos que observamos nas desesperadas mães atuais. O interessante da série é descobrir que todos são risíveis. Não há proteção ou politicamente correto. Todos são vistos como seres humanos. Ser velho, imigrante, gordo, gay, homem, mulher, criança, adolescente… O humor é o agente de inclusão e igualdade porque todos provocam risos e identificação. Ninguém é poupado. Digno de nota: o humor e as piadas da série nem sempre são óbvias e é preciso certa bagagem de referências para poder desfrutar de toda sua graça.

Modern Family
Modern Family – e você que pensava que sua família era louca…

A estrutura narrativa da série auxilia no timing do humor. Nessa ótica, a construção da piada é tão importante quanto a piada em si. Entremeando todo o capítulo, observa-se a inserção de pequenas entrevistas, com as personagens se dirigindo à câmera (a exemplo do que se vê em The Office), dando um ar de “documentário” (hoje esse gênero é chamado de mockumentário – mock pode ser entendido como paródia, ou seja, um falso documentário). Outra estratégia é a volta no tempo, com flashbacks que conduzem o espectador ao entendimento da situação presente, aumentando sua comicidade gradativamente até o desfecho. Cada episódio tem duração de 30 minutos e a maioria do elenco é desconhecida para o grande público brasileiro, apesar da presença do eterno “Al Bundy” Ed O’Neill e de Eric Stonestreet, que você talvez reconheça por causa do seriado CSI.

Emmy Moderdn Family
Eric Stonestreet, vencedor do Emmy 2010 de ator coadjuvante pelo impagável Cameron Tucker do casal gay de Modern Family

A série foi criada por Christopher Lloyd e Steven Levitan e nos EUA está na 2ª temporada. Aqui no Brasil, a série é exibida pela FOX que, por motivos que jamais entenderei, passou a dublar tudo o que vê pela frente. Sim, mas não desanime! Modern Family é tão bom que supera até a dublagem (se você não tem TV a cabo, aguarde o lançamento em DVD. Vale a espera!).


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“Billy Elliot” faz 10 anos


Autor: Mafalda ~ 25 de agosto de 2010. Categorias: Sofá da Mona.

O filme Billy Elliot (2000) completou 10 anos e continua atual. Tanto que se transformou em musical de sucesso na Broadway. Billy (Jamie Bell) é o caçula de uma família composta pelo irmão mais velho, o pai e a avó idosa e já meio “gagá”. O sustento familiar vem da dura atividade da mineração, exercida pelo pai e pelo irmão e destino inexorável do pequeno Billy e da maioria dos garotos pobres da cidade.

Estamos nos meados da década de 80. A Inglaterra, então comandada pela “Dama de Ferro” Margareth Thatcher enfrenta grave recessão, inflação e empobrecimento da já modesta classe operária. A histórica greve dos mineiros de 1984 permeia a trama, acentuando a precária situação familiar de Billy. O desamparo que parece atingir a todos é bem representado pela ausência da mãe de Billy (precocemente falecida). A tentativa de manutenção de sua “presença”, quer seja preservando seu piano ou suas poucas jóias (mesmo num período de penúria) revela o tamanho de sua ausência.

É tempo de indignação, desigualdade social, repressão, dor e reflexão sobre os valores capitalistas e neoliberalistas. A realidade conhecida parece entrar em colapso. Numa cidade de homens endurecidos, Billy é estimulado a praticar boxe, esporte másculo e vigoroso. É com a luta que se espera forjar a força. Todavia, no mesmo ginásio das aulas de boxe, em um canto sem beleza, Mrs. Wilkinson (Julie Walters) ministra aulas de balé para meninas. Atraído pela música (que lhe lembra a mãe), Billy observa a aula. Encantado com a dança, o garoto nos mostrará quanta força é necessária para poder ser sensível.

A atriz Julie Walters (indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro por esse papel) encarna a frustração e o aprisionamento em uma vida claustrofóbica. Fuma o tempo todo (buscando algum alívio ou prazer?), imprimindo uma sensação de sufocamento e desespero. O convívio com Billy expõe algumas de suas feridas, mas suscita-lhe alguma reação. Ela precisou anestesiar-se para sobreviver. Suas aulas de balé para meninas para quem se almeja apenas a repetição do destino de suas mães (casamento) não motivam a professora e ainda lhe trazem ecos amargos da própria história. E então, o pequeno e talentoso Billy Elliot surge, com sua ousadia crua, revirando seus sentimentos. Porque é necessária força descomunal para manter viva a esperança enquanto se cresce e envelhece em uma realidade tão desvitalizante.

A personagem da professora comove, assim como a do pai embrutecido, sem precisar apelar ao piegas. O sofrimento, a desilusão, as dores que a vida impõe são tantas que são necessárias muitas camadas para que se forme um escudo que nos permita ir adiante. Para que alguns sentimentos possam respirar novamente, muitas camadas precisam ser removidas. E para que o futuro de um garoto não seja sufocado. Na ânsia de evitar sofrimento, de buscar “estabilidade” e por preconceito é freqüente vermos adultos podando jovens talentos, especialmente em áreas menos conhecidas pela maioria, como as artes. É melhor mesmo que os filhos trilhem os caminhos dos pais? O que fazer se meu filho buscar alçar vôos em céus que jamais percorri? Para pensar: quantos de nós não fomos como Billy e quantas crianças semelhantes não conhecemos? Quanto todos perdemos ao reprimirmos a verdadeira vocação e talento de nossos jovens?

Em meio à miséria material, em que manter o corpo quente e arranjar algum alimento se tornam problemas centrais no cotidiano, o brincar e o sonhar tornam-se secundários. E de que consistem, em grande parte, a infância e a adolescência? Atropelado pela pobreza, Billy se torna uma criança como tantas por aí: uma criança que não é de fato vista. Olhar para ele é difícil para o pai, tamanha semelhança do filho com a esposa falecida. Olhar para o filho significa ter que romper com tudo aprendido e conhecido em seu estreito e modesto universo operário. Afinal, o que os colegas dirão quando souberem que seu filho quer dançar balé? Será que o menino é homossexual?

Que futuro pode haver para um garoto desses? Há mais além de ser mineiro? (Atenção ao diálogo travado entre pai e filho em uma viagem de ônibus, quando Billy pergunta como é a capital Londres. A resposta do pai o define e é por esse motivo que a construção de seu reconhecimento é tão tocante).

O olhar da professora sobre o garoto é peça-chave na história. É ela quem vê Billy e o nota. Ela vê o garoto, sua família, seu contexto. Não permite que suas próprias frustrações se projetem amargamente. Pelo contrário, vê em Billy um candidato a redentor. Um resgate do que poderia ter sido. Ela compra sua briga como uma leoa que defende seu filhote (ou o filhote que ela mesma foi um dia…).


Billy em plena aula com Mrs. Wilkinson.

A trilha sonora de Billy Elliot é uma personagem essencial da trama. Desafio qualquer pessoa a assistir e não se contagiar com a cena em que um Billy revoltado dança em seu quintal e vizinhança com fúria. Quem de nós nunca sentiu o mesmo?


Momentos da antológica dança de Billy no quintal

O filme foi a estréia como cineasta do conceituado diretor teatral inglês, Stephen Daldry. Talvez venha daí o fato da trama, sem efeitos especiais ou cenários bonitos e centrada na interpretação de seu elenco, prender–nos do início ao fim. Assistir uma história de superação e resiliência ainda pode garantir entretenimento e enriquecimento para espectadores de todas as idades. Mesmo com alguns desfechos previsíveis, o mais importante é a jornada e não o destino. Em cartaz na TV a cabo (no AXN) ou em qualquer locadora de DVD perto de você.


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