Volta às Aulas
Por Eubalena - 18 de fevereiro de 2009. Categorias: Mona POP.
Já que estamos em época de férias/volta às aulas, porque não falar das crianças? Ei, você que tem filhos, a primeira parte do texto é pra você. Ei, você que não tem filhos, continue lendo, a segunda parte do texto diz respeito a todos os adultos.
Então, eu comecei a estudar flauta-doce com 4 anos de idade. Aprendi a ler música antes de ser alfabetizada. Com 9 anos fui aprender piano e comecei a cantar em coro. Durante a faculdade, me voltei totalmente pro estudo da voz e um dos meus trabalhos é regendo um coro infantil.
Eu não pedi pra estudar música. Mas eu tinha 4 anos. Certamente se passasse mais tempo, teria pedido. Afinal, na minha casa sempre tivemos violões e rolava música ao invés de TV. Meu irmão não foi incentivado para a música como eu fui. Ele nunca estudou música.
Qual a diferença entre nós? Temos coisas de família, dificuldades que, mesmo também sendo obstáculos pra mim, eu venci mais facilmente. Ele não tinha coordenação motora fina (acabou indo fazer origami como terapia). Eu tenho dificuldade de coordenação até hoje, mas é só concentrar e “baixar o santo” que consigo fazer algo que a princípio parecia difícil. A única coisa que ainda não tentei por medo de ser muito, muito descoordenada é tocar bateria, hehe.
Outro ponto: nós dois somos muito, muito tímidos e com uma forte tendência anti-social. Sabe a criança que não era escolhida pra jogar vôlei/futebol/basquete? Éramos nós. Mas eu tinha algumas amigas, colegas de coral, alunas de piano. Eu cantava na frente de todo mundo nas apresentações do coral e isso me fez não ter problema com apresentações de trabalhos em sala de aula. Até hoje eu digo que palco não é problema pra mim. E, quando vou conversar com alguém que não conheço, invoco a artista pra que minha timidez não venha à tona e acabe me fazendo parecer arrogante. Já meu irmão só foi fazer amizade, meeesmo, no segundo grau. E olha lá.
Legal, ajuda na coordenação, ajuda no convívio social, mas só isso? Não. Todos sabem, é óbvio, que ajuda na criatividade, no gosto pessoal, na visão de mundo. Uma criança que aprendeu música não precisa virar um profissional disso, mas será aquele adulto de bom humor, simpático, com boas soluções para o seu dia-a-dia, com gostos variados, e que consegue não passar vergonha quando alguém insiste que ele venha jogar pingue-pongue, pelo menos uma partida.
Logo, se o filho pedir, coloque-o sem dúvida numa aula de música. Mas e se ele não pedir? Pergunte. Tente perceber se seu filho gosta e pergunte de novo. Porque todos nós sabemos que às vezes crianças não dizem o que gostariam. Por vergonha, ou qualquer outro fator.
Minha amiga Priscilla passou por isso. Ela diz: “quando eu era criança, eu amava dançar e cantar. então eu colocava minhas músicas favoritas no rádio e ficava dançando e cantando pelo quarto e inventando palco e público. Quando alguém abria a porta eu paralisava instantaneamente ou sentava aonde eu tava e fingia que eu estava apenas escutando a música como se nada tivesse acontecido. Eu morria de vergonha. E era uma vergonha estranha porque, da mesma maneira que eu inventava público pra poder cantar pra ele, eu não conseguia fazer isso na frente de um público de verdade. Eu era super tímida pra pedir coisas pra minha mãe. Eu chegava na barra da saia dela e ficava ‘mããããe….’ na esperança que ela adivinhasse o que eu tava pensando. Minha mãe já sabia que, quando eu fazia isso, eu queria alguma coisa. Aí começava a me perguntar se eu queria comer/beber/fazer/perguntar alguma coisa. Mas ela nunca me perguntou se eu queria fazer aula de música. Ela até perguntava ‘você quer fazer alguma coisa?’ eu mexia a cabeça dizendo que sim. Ela perguntava o quê e eu ficava sorrindo porque eu tinha vergonha de dizer que eu queria aula de música. Hoje penso que a vergonha deveria ser sobre ter de apresentar pra família o que eu viria a aprender na aula de música já que eu tinha vergonha do público de verdade.” Mas não, ela não fica apenas se lamentando sem tomar nenhuma atitude. Ela está correndo atrás do sonho dela.
Recentemente no MonaCast surgiu a dúvida: para aprender música, é necessário começar desde cedo? A resposta óbvia veio rapidamente: sim! Mas não se desespere. Ela é óbvia, mas eu discordo. E digo a razão.
Bom, então primeiro preciso falar que meu outro trabalho tem a ver com formação de professores de música. Depois de adultos, sim. Pra isso, muita pesquisa musicopedagógica, claro. E criação de um método para musicalização de adultos, que está funcionando muito bem, obrigada.
A questão é a seguinte: por que um adulto que tenta aprender música normalmente se frustra? Ora, qualquer um se frustraria se fosse ser alfabetizado depois de adulto e fosse tratado como criança. O método é outro. Crianças e adultos são diferentes, logo devem receber as novas informações de maneiras diferentes também. Crianças aceitam o novo mais facilmente, mas precisam que tudo seja conduzido mais ludicamente. Vou contar dois casos:
1. Quando eu era pequeninha, meu pai começou a fazer aula de violão e minha mãe, pra fazer companhia, começou a fazer aula de flauta-doce. Minha mãe chegava em casa e me ensinava tudo que tinha aprendido na aula daquele dia. Foi assim que tudo começou. Se eles não tivessem ido aprender música depois de adultos, eu não teria essa profissão hoje (e não consigo pensar em outra). Meu pai estuda violão até hoje. Não com o intuito de virar profissional, senão já o teria feito, mas sim como hobby. É o momento anti-stress dos dias dele, quando ele senta e pega o violão pra estudar. Ele vai pra cidade vizinha estudar, porque aqui não temos professores de violão, mas o faz com muito gosto. Uma vez por semana, ele pára de pensar em trabalho e se diverte com sua música.
2. Quando entrei na faculdade, entrou também uma senhora, que ao longo do tempo descobri ser uma bancária aposentada. Depois de se aposentar pelo banco, ela começou (sim, começou) a estudar piano. Ela nunca tinha tido uma aula antes disso. Quando ela se sentiu segura no piano, ela foi e fez a prova específica e o vestibular pra entrar no curso de música. E entrou, comigo. Ela está formada agora, em Licenciatura – Piano, e trabalha dando aula na sua casa. O modo como ela encarava as aulas, querendo aprender, mas sem aquela pressão de precisar aprender, era fantástico. Passava uma leveza pra toda a turma.
Conclusões?
1. Aproveite a volta às aulas. Leve seu filho a uma escola de música. Qual instrumento é melhor para começar? O que ele sentir vontade. Não o obrigue a estudar violino se ele quer estudar bateria.
2. Aproveite a volta às aulas. Vá a uma escola de música. Qual instrumento é melhor para começar? Aquele que você sempre quis aprender, mas se achava incapaz (por idade, coordenação ou falta de alguma coisa). Mas não queira aprender tudo num dia só. Uma coisa que as crianças entendem é que nada se aprende num dia só. Não sinta agonia por aprender um pouquinho por vez.
Luana
18 de fevereiro de 2009 às 16:06
Poxa… deu uma vontade de retomar aquele sonho de fazer aulas de violão… nunca comecei de fato, nunca tive tempo, na verdade nunca foi prioridade…
Quem sabe este ano?
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18 de fevereiro de 2009 às 21:58
Post fofo. Me deu vontade de voltar a tocar lira. =)
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18 de fevereiro de 2009 às 23:53
Concordo que nunca é tarde pra fazer o que se gosta, inclusive estudar música. Entrei para a Escola Villa-Lobos com 17 anos, fiz 4 anos de teoria e 3 de piano. Até hoje sinto saudades daquele tempo e me arrependo de ter parado.
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19 de fevereiro de 2009 às 0:03
Depois desta, acho que vou levar à sério a proposta que um amigo me fez de me dar aulas de música..
sinto falta disso, e nunca tive chances de aprender (não, minha família nunca me perguntou, pq não adiantaria: não tínhamos dinheiro nem pra comprar os livros pradidáticos, aulas extras era algo que nem passava pela cabeça e orçamento da família)
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19 de fevereiro de 2009 às 17:49
Realmente! Nada como ensinar as crianças e deixar que elas escolham e sigam seu caminho. Você escolheu. Você venceu! Lembro dos 4 aninhos quando você pegava na flauta e seus dedinhos nem alcançavam as últimas notas, mas você era persistente… e chegava lá! E chegou lá!Parabéns por continuar o que iniciaste tão cedo. Por trabalhar, ensinar, tocar, cantar. A música é a luz, é o caminho. Você é iluminada e nós te amamos muito. Conte conosco sempre!
Beijos no coração…
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20 de fevereiro de 2009 às 10:30
Primeiro, parabéns pelo ótimo e esclarecido texto.
Concordo em tudo e venho acrescentar. Eu tenho grande vergonha de tocar, e isso é justamente por pensar que todo mundo sabe mais do que eu. Quando fazemos aulas em grupo, aprendemos também a saber tocar para/com outras pessoas. Eu não fiz isso. Aprender só é legal? É, mas é interessante ter um acompanhamento.
Também gostaria de falar do esporte, sobretudo das artes maciais. Com 8 anos comecei a fazer Tae-Kwon Do. Incrível como isso foi importante para minha coordenação motora, respiração, até estilo de vida (encarada como arte, a fiolosifa do Tae-Kwon Do é incrível) e a que julgo mais importante: ambidestria com os pés e com as mãos. A ambidestria foi algo que tive que ter primeiro pela arte-macial e depois por necessidade da profissão. Dizem, DIZEM, que quem consegue a ambidestria, trabalha partes mortas do cérebro e isso reflete também na música. Quando se toca um intrumento ou ao cantar, você não está pensando só no que está fazendo, mas se está fazendo correto, tendo todos aqueles cuidados e tudo mais (daí surge o perfeccionismo bom). Aguça a percepção sobre si mesmo, seu corpo, sua habilidade/agilidade.
Esporte e música são fundamentais na vida das crianças. Se elas vão carregar isso para todo o sempre? Não sei. Até creio que não. Eu não faço mais Tae-Kwon Do, apesar de o ter praticado até uns 19-20 anos. Você se profissionalizou na música. São escolhas!
Grande beijo e parabéns pelo texto.
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20 de fevereiro de 2009 às 13:40
Voltar a tocar um instrumento depois de um tempo é sempre uma sensação boa. E aulas de música podem ser um ótimo passatempo!
Rapha, esporte e música são, sim, fundamentais na vida das crianças, e isso é o que eu sempre defendi. São as únicas duas aulas onde a criança não precisa ficar sentado na carteira, onde ela tem liberdade de expressão total.
Se elas vão carregar isso pra vida toda? Acho que profissionalização não é o objetivo. Mas sim, todos carregam os benefícios pra vida toda, não concorda?
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4 de maio de 2009 às 18:50
po favor gostaria se possivel for que voçê me indicasse metodo (livro)de como ensinar flauta doce para criança de três anos pois eu ainda não tenho metodo para crinça não alfabetizada e também para teclado e teoria.Obrigado!
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5 de maio de 2009 às 0:41
Oi Letícia! É para seu/ua filho/a? O primeiro passo a dar é procurar um bom professor de música na sua cidade.
É para você ensinar? Métodos em geral são indicados para crianças. Se elas não são alfabetizadas você ajuda mostrando os desenhos e sinais e tentando fazer ludicamente que eles decorem.
Eu fui musicalizada com o método Minha Doce Flauta Doce, do Mário Mascarenhas, mas isso foi há 22 anos atrás, deve ter algo bem melhor hoje em dia. Como não sou professora de flauta-doce, não estou por dentro de qual é o melhor atualmente.
Sobre o método de teclado/piano, gosto muito do método para crianças do Hal Leonard. É muito didático.
Em geral os métodos de instrumentos voltados para crianças caminham junto com a teoria musical. Ou seja, eles aprendem a tocar uma música e vão aprendendo os sinais que vão aparecendo. Esse método do Hal Leonard é muito bom nisso, também.
Espero ter ajudado! Um beijo!
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24 de novembro de 2010 às 13:56
Gostei muito do seu post. Me fez querer chorar várias vezes. Eu sou totalmente a favor dos pais estimularem seus filhos a aprenderem a tocar algum instrumento, ou a pelo menos, a se envolver com música. Venho de uma família em que meu pai tocava violão, guitarra, piano… Mas nunca se preocupou em incentivar as filhas a fazer parte da música. O sonho de aprender a tocar, estava comigo desde cedo, o problema era a oportunidade. Agora aos 20 anos eu comecei a estudar flauta transversal. A frustração existe, principalmente quando vejo crianças tocando. Mas estou tentando esquecer o passado que não pode ser recuperado e seguir em frente na flauta. Se um dia me tornarei profissional, não sei… Mas tenho a ambição de me formar em música.
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24 de novembro de 2010 às 15:42
Olha só, na minha criação recebi algumas recomendações: estudar um idioma estrangeiro,fazer catecismo (familia catolica), praticar um esporte ou ginastica e aprender um instrumento. Eu não era cobrada a ser boa em nada, mas era do gosto de meus pais que eu nao faltasse e tentasse meu melhor. Aprendi muita coisa em cada atividade e tive um senhorinha que me deu aulas de violão da qual me lembro até hoje (sim, sei tocar até hoje, mas ando enferrujada).
Agradeço este aspecto de minha criação e pra quem tiver condições eu recomendo.
Muito boa sua materia, muito interessante mesmo.
Bjs
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16 de março de 2016 às 19:35
Oie,
que texto demais!
Eu sei o quanto é complicado manter um blog!
Tenho feito posts sobre Gmail Entrar no blog Revista Ícone
Beijos!
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