Benditas sejam as moças de vestido sem brilhos, ombreiras e tantos babados; sem cintos de couro, barbante, metal, muito menos fivela; e jamais embaladas a vácuo, pois que a sensualidade está no detalhe do tecido que roça o corpo em movimento, nunca no grude integral ao corpo estático.
Benditas sejam as moças de calça jeans e blusinha branca ou preta, sempre básicas por ruas e bares – como aliás pedem as ruas e os bares, seja nas calçadas da Pavuna ou do Leblon -, e quiçá de alcinha, como quem dá de ombros aos excessos da moda e leva o sorriso à frente da roupa.
Benditas sejam as moças que não saem para tomar um chopinho como quem vai para um casamento, e nem vão para um casamento como quem vai para um Halloween.
Benditas sejam as moças capazes de colocar um shortinho e um par de sandálias, e descer em 5 minutos se o homem diz que está passando na portaria, conscientes de que nada é mais elegante que uma mulher despojada e segura de si.
Benditas sejam as moças atléticas, que, ao se vestirem, buscam mais suavizar seus atributos – para fugir à vulgaridade das periguetes turbinadas – do que ocultar seus defeitos – pendurando a saia nos seios, por exemplo, para encobrir a bunda faltante – e ainda dispensam a mão na cintura para tapar o pneuzinho no álbum de fotos.
Benditas sejam as moças aptas a andar e sambar de salto, porque é o samba que dá a medida – mesmo que a ocasião não obrigue ao samba – da altura que uma mulher pode ter.
Benditas sejam as moças que se sabem bonitas, pois nada é mais feio que uma moça bonita que tenta, à força de maquiagens e demais pilantragens, ser aquilo que, sem elas, já é.
Benditas sejam as moças de bolsas funcionais e discretas, daquelas que jamais atrapalham o abraço, nem substituem a lanterna em caso de apagão.
Benditas sejam as moças leves e práticas, que não se deixam transformar em bonecas russas ou árvores de Natal, daquelas que, de tantas camadas (de peças e cosméticos) e enfeites (como colares, pulseiras, braceletes, brincos, pingentes e anéis), um homem precisaria de dois ou três Dias de Reis para desmontar.
Benditas sejam as moças curiosas, inquietas e interessadas, que enxergam além das próprias mães e miguxas, sabendo que o senso estético vem do berço e do ambiente, mas, como tudo o mais, pode ser desenvolvido com a ampliação do imaginário e a elevação do espírito, através de um conhecimento que não é servido no Open Bar.
Benditas sejam as duas ou três moças que sobraram por aí, imunes ao império da cafonice não (só) pela sorte de terem tido bons exemplos ao seu redor, mas (também) porque, diante do acesso ilimitado aos bens de consumo, conservam o desejo quase extinto de ser muito mais do que os prazeres e lazeres que podem gozar ou consumir.
Benditas sejam as moças que são.
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Felipe Moura Brasil é autor do Blog do Pim e nunca viu tantas “árvores de Natal” no Rio de Janeiro.
[Crônica publicada originalmente no facebook - aqui.]