Porque fazer humor e podcast é uma arte

































Meu Debut


Autor: Eubalena ~ 12 de outubro de 2009. Categorias: Cantinho das Monas.

ATENÇÃO

Este post contém amostra da moda festa dos anos

80. Por medida de segurança evite olhar

diretamente para a padronagem

dos tecidos e penteados.

Desde o momento que o médico anunciou: É uma menina! Minha mãe deu início a chantagem para que eu debutasse. Ela veio com o papo que o pai dela morreu antes de realizar o sonho de ver as filhas debutando. Daí, que filha malvada vai dizer não à uma mãe órfã?

Claro que, sendo de cidade pequena – ou seja, era a única coisa para se fazer por lá, e com todas as minhas amigas empolgadas para debutar,  me empolguei e fui junto.

Meses antes, sai de Santa Catarina, num ônibus cata-corno, com um bêbado, uma velha que comeu a noite toda e um carinha com quem minha mãe e a amiga, que foi conosco, queriam que eu ficasse a viagem toda conversando. MEU DEUS! Só porque ele tinha problemas cardiácos e tinha me achado”engraçadinha, com carinha de japonesa.” Posso com isso? Acho que desde os meus 14 anos minha mãe, e pelo visto o resto do povo também, achava que eu ficaria largada no mundo amargurado das solteironas rabugentas. Se bem que  rabugenta eu sempre fui.

Cheguei em SP e fiquei no hotel  menos confortável e estranho que se podia achar. Mas, segundo mamãe, foi recomendado por conhecidas. Imagino se fossem inimigas.

A missão em São Paulo era comprar um vestido de debutantes. Vestido de debutantes é aquele que fica entre os de primeira comunhão é o de noiva. Ele é meio assim: sou virgem, mas só até o ano que vem.

Claro que mamãe sempre sonhou com um vestido branco para mim. Imagina eu entrando nos luxuosos salões do Imbituba Atlético Clube, com aquele castelo de papelão no palco e o presidente do clube se achando o próprio príncipe encantado, num vestido rosa? Mamãe surta!

Achar um vestido de debutantes não é tarefa fácil. Principalmente se a mãe da menina adora mangas semi-bufantes e saia de tule e a menina odeia bolos de noiva.

Felizmente, após subir e descer aquela rua das noivas, acho que é a São Caetano, encontrei Samuel – um estilista companheiro que me livrou das mangas bufantes e fez minha mãe enxergar que eu poderia pegar fogo caso alguém encostasse um cigarro aceso em mim durante o baile.

Comprado o vestido era hora de voltar pra casa e participar dos vários eventos pré-baile. E eram vários, já que, para aproveitar o vestido e não jogar dinheiro fora, debutei em três clubes diferentes.

O primeiro baile foi em Siderópolis, uma cidade perto de Criciúma, no sul de Santa Catarina.
Exibir mapa ampliado

Baile de Debutante de Siderópolis

Não lembro de quase nada daquele baile, mas lembro da recepção na casa da patronesse e do passeio pra Termas do Gravatal num onibus da Zelindro. Até hoje não consigo entender o fascinio das pessoas por Termas.

O outro baile foi o mais esperado pela minha mãe, já que era no clube da minha cidade. A decoração era tudo! Um castelo. E saíamos de lá. Sei que nas reuniões falaram nos cadetes da Aeronáutica para esperar as debutantes na porta do castelo. Mas a mãe de uma debutante não aceitou porque a filha dela não era menina de cadete. Tá, mas era menina de se agarrar com meio clube na sacada de tras durante o baile.

Depois falaram em contratar um ator. Não lembro qual era o gostoso de 1988. Mas também não aceitaram e quem acabou esperando na porta foi o presidente do clube mesmo.

Imbituba Atlético Clube – Debutantes de 1988

Nesse baile eu chorei. Tá certo que choro até em propaganda das Casas Bahia. O apresentador começou a falar e eu a chorar. Acabei fazendo todo mundo chorar junto. E, neste momento, minha mãe, vestida num belo traje verde papagaio, levanta-se com um lecinho azul para secar minhas lágrimas. Terrível!

Mamãe em seu traje verde papagaio e Sr. Paulo Coelho, ainda com cabelos.

O último baile foi o mais divertido, e o único que lembro melhor. O apresentador… Meu Deus, o apresentador! Levou 3 horas pra falar meu nome e ainda falou errado. Mas também, quem manda convidar Cacau Menezes para apresentar um baile de debutantes. Até hoje eu me pergunto quem teve essa idéia maravilhosa.

Vila Nova Atlético Clube – Sorriso de pânico ao ver Cacau Menezes no palco. Detalhe para as flores de papel higiênico na decoração.

Ah, um capítulo a parte é a escolha do par especial. Antes era valsa dos namorados, mas tinha umas barangas que só conseguiam dançar com o irmão ou o primo (este forçado pela mãe para não magoar a irmã, mãe da baragua) então trocaram o nome para valsa com o par especial.

A escolha do par é quase uma luta de foice. É uma guerra para ver quem convidava os mais bonitos primeiro. Por sorte, sempre tive muitos amigos bonitinhos. E o melhor: nenhum deles foi forçado pela mãe a dançar comigo.

Eu não posso dizer que não gostei dos bailes. Ri muito! Afinal, não é sempre que se sobe num palco para dançar Ilariê e se pega rubéola na mesma noite.

Beijos
Euba.





Busca

© 2007-2024 Monalisa de Pijamas - Todos os direitos reservados. Contato: mafalda [arroba] monalisadepijamas.com.br