Sou filha de um comerciário e de uma dona de casa. Nasci e cresci numa cidade pequena no litoral sul de Santa Catarina onde existia uma única escola no bairro e era pública.
Nessa escola estudavam crianças de toda a cidade: filhos do prefeito, dos médicos, dos advogados, dos diretores das duas maiores empresas da cidade, filhos de empregadas domésticas, crianças que usavam estojo importado e alunos que recebiam seu material escolar da “caixa” – o material era comprado com verba da Associação de Pais e Professores (APP) e doado para alunos carentes.
A turma que estudei, muitos eu conheci no jardim de infância (também público), ficou junta durante oito anos. Depois da oitava série muitos foram estudar na capital e outros ficaram por ali mesmo. Desta turma formaram-se advogados, engenheiros, médicos, enfermeiras. Alguns empresários, professores. Outras resolveram virar donas de casa. Mas todos, todos, tem algo em comum: sabemos o nosso lugar na sociedade porque recebemos educação de nossos pais. Uma educação baseada no conhecimento de nossos limites e no respeito pelo outro.
Sou de um tempo, e não é tão distante assim, em que meus problemas na escola eram resolvidos com diálogo entre os envolvidos e não com chutes, socos e assassinatos.
Por outro lado, durante a minha infância, era raro o pai que não dava palmadas corretivas nos filhos. Eu levei, mas não faço mesmo com minha filha. Não faço não só por achar uma covardia, mas porque sei que não funciona. Sim! Comigo palmada nunca funcionou. O choro passava e eu sabia que a dor da palmada era momentânea. Mas só aprendi isso depois de pensar muito na forma de educação que queria dar. O que me colocava na linha era o castigo. Não usar o brinquedo favorito, por exemplo, sempre me fez mudar uma atitude errada.
Mas educar filhos sempre foi um dilema. A geração passada sempre deixa claro que a sua educação foi melhor que a geração atual. O que tenho visto nos últimos anos me deixa muito assustada com o mundo que está sendo preparado para minha filha. E me vejo falando as mesmas frases que minha avó e mãe falavam.
Já lí muitas mães perguntando nas comunidades de Orkut qual palavra deve ser usada no lugar de não. Eu, na minha profunda ignorancia, não consigo entender no que ouvir não pode atrapalhar o desenvolvimento de uma criança. Já vi mãe, pedagoga, falar com a professora do filho para que ela nunca corrigisse o aluno. Já vi pais que evitam repreender os filhos para não parecer que estão contra a criança.
Eu sou mãe há 5 anos. Não sei nada ainda sobre educar filhos, mas penso que educar alguém é ensiná-lo a conviver com o filho de outra família, que foi educado de uma forma diferente, que pode ter valores diferentes. Então, a base da minha educação é o respeito. Ensino minha filha a respeitar o outro.
Quando se tem respeito por alguém e seus princípios e valores, os seus também são respeitados. Ser educado não é ser fraco, como muitos pensam. É saber se impor, saber esperar, saber oferecer e receber, saber viver em um meio social.
Euba