“O que é a beleza?” – Concursos de beleza em revista
Autor: Mafalda ~ 6 de outubro de 2010. Categorias: Mona POP, Sofá da Mona.
Mesmo sendo uma qualidade tão abstrata, tão relativa, a beleza era fundamental para o poeta e uma característica desejada pela maioria das pessoas (Aliás, cá pra nós: a beleza era última coisa fundamental para as mulheres que se envolveram com esse poeta, porque ele era não era nenhum Brad Pitty…)
E aí chegamos numa outra particularidade da espécie humana: a mania de fazer concurso para tudo. Não basta ser uma moça bonita, tem que ganhar o concurso de modelo ou miss ou ser a top número 1. Tem que ser a mais bonita do universo. Por que? Pra que? Se o mercado da busca pela beleza consegue movimentar bilhões pelo mundo, essa deve ser uma questão essencial em nossas mentes. E talvez por esse motivo, tantas pessoas no mundo tenham a beleza estética como sinônimo de felicidade, poder e chave para o sucesso.
Pensando um pouco sobre concursos de beleza e o valor que atribuímos a este aspecto tão volátil, aqui vai uma breve lista de filme/série/desenho com várias abordagens sobre a insana disputa (se você lembrar de mais algum título, indique nos comentários).
PARA NÃO PENSAR
Quer coisa mais relaxante que um filme totalmente descartável, que te faz dar umas risadas e pronto?! Nesta categoria, indico Miss Simpatia (2000) com a Sandra Bullock. Em minha opinião de especialista em filmes tipo “sessão da tarde”, Miss Simpatia 1 é melhor que o 2 (Miss Simpatia 2- Armada e Poderosa, 2005). Mas, se a idéia for só ter uma desculpa para comer pipoca e se dissociar da realidade cruel do mundo lá fora, vá em frente e encare os dois títulos numa mini-maratona. Nos dois filmes, Sandra Bullock interpreta Gracie Hart, agente do FBI. Para investigar um atentado terrorista, ela se infiltra como candidata a miss no primeiro título. Na seqüência, a agente vira uma espécie de celebridade, o que inviabiliza continuar seu trabalho sob disfarce e acaba se tornando um tipo de embaixadora do FBI na mídia. Todavia, quando seus amigos são seqüestrados em Las Vegas, a agente entra novamente em ação.
PARA QUEM GOSTA DE DESENHO ANIMADO (como eu)
Temos um da Turma da Mônica, bem engraçadinho. Cebolinha e Cascão resolvem promover um concurso de beleza entre as garotas do bairro (mais um “plano infalível” – como sempre). Quando assisti, pensei o quanto esta questão da beleza virou uma preocupação tão cedo na vida. Pobres criancinhas… pobres meninas, já envolvidas em disputas e rivalidades desde o berço!
PARA PENSAR UM POUCO
Falando em desenho animado, Os Simpsons também tocaram no assunto dos concursos de beleza no episódio Lisa, a Rainha da Beleza. Homer inscreve Lisa em um concurso de beleza para meninas de 7 a 9 anos (Little Miss Springfield – em uma paródia ao último filme desta lista) patrocinado por uma marca de cigarros (sim, super politicamente incorreto). Apesar da crise por não se julgar bonita, Lisa resolve participar para agradar ao pai e mergulha num universo perverso e maluco em que vale tudo para ser a menina mais bonita e talentosa da cidade. Uma crítica debochada aos concursos mirins que são uma verdadeira febre nos EUA e ao marketing sem escrúpulos da indústria do cigarro (e outros produtos) que buscam captar novos consumidores. Bart está particularmente engraçado no episódio, ajudando no treinamento da irmã. Referências mil como sempre.
O final do ensino médio nos EUA (o famoso high school) é uma verdadeira prova de fogo para qualquer adolescente fora dos padrão estético imposto pela sociedade. No filme Uma Rainha Diferente (Queen Sized, 2008), Maggie (Nikki Blonsky de Hairspray- o filme) é uma garota obesa e com poucos amigos, constantemente zoada pela turma dos “populares” da escola. Em uma brincadeira maldosa, essa turma a elege Rainha do Baile. Maggie, no entanto, resolve levar a coisa a sério e adiante. Produção para adolescentes feita para TV, que busca levantar algumas questões para reflexão, como a aceitação do diferente, o rígido padrão de beleza imposto e a ilusão que a vaidade alimenta. Embora não se deva esperar interpretações primorosas, a transformação de comportamento da protagonista durante a trama é interessante.
PARA PENSAR (E RIR) MUITO
Pequena Miss Sunshine (dos diretores Jonathan Dayton e Valerie Faris – 2006) foi aclamado no festival Sundance, Meca do cinema independente. Não à toa. Atuações impecáveis e roteiro inteligente. O filme mostra a jornada de uma família norte-americana para levar sua caçulinha a um concurso de beleza infantil (Little Miss Sunshine). A candidata em questão, só é chamada porque a vencedora legítima teve problemas com remédios emagrecedores. Sim, aos 7 anos de idade. Ironicamente, sua sucessora usa grandes óculos, é meio gordinha, ligeiramente desajeitada e tem como “coreógrafo” o avô, que resolveu aproveitar a terceira idade com mulheres e drogas. Juntam-se aos dois um pai que batalha para vencer no mercado da auto-ajuda e motivação, apesar de não ser um exemplo de sucesso, um tio homossexual que tentou o suicídio recentemente, um garoto adolescente em pleno voto de silêncio e uma mãe, à beira de um ataque de nervos, tentando conciliar e unir todos os membros de seu clã. Para conduzi-los na longa viagem ao concurso, uma Kombi velha. As personagens da trama têm algo em comum: a falha, o fracasso em algum objetivo. Estão fora do padrão hegemônico vendido pelo sonho americano, fruto da ditadura do sucesso e da perfeição estética. Não por acaso, encerro essa breve lista com Pequena Miss Sunshine. Sua abordagem sobre o concurso de beleza mirim, diz muito sobre a gênese de seus análogos adultos. É fácil prever (e lamentar) a trajetória de suas vencedoras (?!) e a desesperadora projeção de seus pais “incentivadores”, competidores predadores da infância de seus filhos. Por esse motivo é delicioso curtir a apresentação de nossa candidata fora do padrão, a reação dos presentes e de sua própria família (hilária e comovente). Meninas preparadas e transformadas para tais concursos absorvem a mensagem de que, sendo quem são naturalmente, nunca terão sucesso e não serão “felizes”. Pequena Miss Sunshine expõe o patético de uma sociedade pequeno-burguesa obcecada pelas aparências e pelo conceito materialista e raso de sucesso, que aplaude sorrisos protéticos e apliques de cabelo sintético em crianças erotizadas transformadas em objetos. Mostra uma sociedade em que o vencedor não questiona. Apenas almeja e celebra a alegria burra e superficial fruto da regressão, alienação e idiotização. Seu objetivo é sempre ter o “gramado” melhor que o do vizinho (ou a filha mais “perfeita”, pelo menos aparentemente…).