Porque fazer humor e podcast é uma arte

































Velho e … terminal demais!


Autor: Mafalda ~ 20 de julho de 2010. Categorias: Ponto Gê.

velho


No fim é sempre tão difícil a busca pelo companheiro que a nosso ver seja perfeito. Parece uma missão, entre tantas na vida, encontrar alguém que ao menos se enquadre, com excelência, em três atributos diferentes dos muitos a escolher: intelectual, bonito, sentimentalmente resolvido, equilibrado, simpático, financeiramente estável, aventureiro, surpreendente, romântico, ativo, bom de pegada), e mais um Continente a sua escolha (somente para os jogadores de War).

Como já comentei aqui não sou muito preocupada com a idade, mas para que todos me entendam e para que eu possa sempre explicar o critério idade, podemos resumir em uma palavra: razoabilidade!

Estava fazendo reposição de horas do estágio supervisionado da faculdade em horário diferenciado do normal. Passei correndo na frente da sala dos professores-supervisores, porque estava apressada para resolver umas pendências.

Ouvi um “ei, você!” vindo de dentro de uma das salas e voltei. Era um dos professores, com quem eu nunca tinha tido aula, sequer sabia o nome. Ele sorriu e pediu-me para entrar e sentar.

Você pode estar pensando em um professor charmoso, com aquele olhar sábio e experiente, ou pode estar pensando em um barrigudo ou franzino senhorzinho safado. Você errou.

A imagem que eu via à minha frente por muito pouco lembrava um homem, muito menos poderia remeter a pensamentos libidinosos.

Um senhor de porte alto, pele do tipo branca-bronzeada, sem cabelo algum na cabeça, porém ainda usava blusa de lã grossa com o zíper aberto, deixando a mostra os pelos ralos do peito. Ele estava sentado em uma cadeira de rodas, com uma bomba de oxigênio ligada ao nariz. Com mais de 70 anos, ainda possuía um ar esperançoso no rosto, um sorriso modesto, porém satisfeito. Não tivesse em uma cadeira, daria fácil uns 40 anos para o alemão.

Tomada meio que de sopetão pelo chamado e passado o choque de ver o professor que eu desconhecia naquela situação, fui questionada sobre meu nome, idade, área de interesse, pretensão profissional, naturalidade, gostos e preferências nos mais diversos e variados assuntos.

Não demorou muito para me sentir conversando com alguém que precisava de atenção – acredito que todos têm sempre essa sensação quando conversa com pessoas doentes – e ele, definitivamente, quando não podia sustentar uma conversa em ritmo normal por lhe faltar o fôlego, parecia uma pessoa extremamente doente.

Sem rodeio, como desenvolvimento normal do papo, logo perguntei qual o motivo da cadeira e do oxigênio. Fiquei impactada com o motivo, apesar de parecer meio lógico: ele estava com câncer no pulmão, por conta do consumo de cigarro.

Como minha mãe é fumante, quase chorei na frente dele.

Ele me contou tudo, como passou por tudo e que estava esperando um transplante. Depois de um tempão de conversa, disse que era um prazer conhecê-lo, que torcia por sua melhora e sentia não ter tido aulas com ele.

Então o velho professor levantou-se da cadeira para me cumprimentar e foi se direcionando a mim como quem ia me dar um abraço, estava comovida com o esforço que ele estava fazendo. Então, do nada, ele puxa meu rosto e me da um beijo, sim, ele me deu um selinho!

Eu fiquei paralisada, me afastei e sai da sala! Não sabia ao certo se eu ria ou chorava, não entendia como um homem que mal conseguia respirar tinha me agarrado contra a minha vontade! Fosse outro tomava fácil um tapa.

Minutos depois minha amiga chegou, e eu ainda estava em estado de choque. Só pelo meu semblante ela foi logo perguntando o que tinha acontecido, e contei a parte que estava me afetando: “não ria, mas o professor acabou de me beijar contra a minha vontade”.

Ela riu, disse que era impossível, porque ele não conseguia nem se levantar da cadeira. Tive certeza que era motivo de choro.

Sai correndo do estágio, deixei tudo por fazer. Pronto, estava fugindo de alguém numa cadeira de rodas que mal conseguia respirar!

Até hoje lembrar isso me deixa nervosa.

No outro dia ele me ligou, pediu meu telefone para minha supervisora, e me convidou para sair. Disse que não podia e não atendi mais os telefonemas dele.

Fui chacota de meus amigos por muito tempo, que depois que o professor faleceu me encheram de cartõezinhos e mensagens de consolação à viuvez! ¬¬’

Assim, não que eu seja extremamente criteriosa com idade, mas tem limites né!

Pode parecer engraçado, mas ainda é bizarro pra mim!

Geraldina





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