CQC – Humor Inteligente e Inovador?
Autor: Mafalda ~ 1 de dezembro de 2010. Categorias: Mona POP, Sofá da Mona.
Quando assisto ao programa atualmente, salta-me aos olhos um enorme trem de clichês e preconceitos engatados, correndo pelos trilhos do senso comum que nunca levam a lugar algum. Percebi só agora ou isso é coisa recente?
Entrevistar artistas e celebridades, na maior parte das vezes é um desfiar de elogios exagerados ou provocações deselegantes. Quando o artista é da Globo, percebe-se um misto de menosprezo e babação de ovo. Tem coisa mais 5 minutos atrás? E piadas sobre gays, travestis e obesidade? Piada sobre argentino? (Oi? Cadê a inovação?). O stand up pode ter à sua frente os jovens talentos do CQC, mas em matéria de TV, o que observamos são mentes retrógradas.
Quer uma prova? Se há um problema numa cidade e se procura o órgão responsável, a encenação é sempre de ser o justiceiro detentor da única verdade, o dono da razão. Chegam arrogantes nas repartições e muitas vezes destratam os funcionários do local, quando os mesmos se mostram insatisfeitos pela invasão (muitas vezes cumprindo ordens). Independentemente da gravidade de qualquer problema, precisa tudo isso? CQC aposta no poder da TV em constranger para obter respostas de encarregados, no direito de chegar a qualquer hora com câmera e microfones apontados para todos os lados. Desse jeito, é o CQC que me constrange mais. Dar uma de macho em repartições é a resposta pra nossa sociedade então? O humor bacana cabe em qualquer lugar. Talvez seja o motivo de sentir as piadas do CQC cada vez mais deslocadas. Vide sua lamentável cobertura da Parada Gay, por exemplo, e o mau uso do humor politicamente incorreto no twitter.
Equipe do CQC: em dívida com o humor inteligente
O humor inteligente nos transforma. Expõe características e feridas que todos temos. Esfrega em nossa cara a nossa cumplicidade em problemas sociais, trazendo perguntas e/ou novos pontos de vista. O humor do CQC me parece mais com o daquele tio metido a engraçado (mas que é só chato) que comprou o CD de piadas do Ari Toledo e as repete sem parar mesmo quando não é apropriado. Outro patamar.
Atualmente, o momento que assisto e que tem alguma graça, é o TOP 5. Curiosamente, a exposição de trechos bizarros de outros programas. De volta à bancada, metralhadora verbal, cachoeira de comentários repetitivos e de ironia e humor óbvios demais. Será que eles têm que fazer assim para a maioria do público sacar? Os temas escolhidos parecem sempre vindos: a) de um patrocinador (matéria paga); b) assuntos mais pesquisados do Google news. O marketing e o oportunismo, o caminho mais óbvio do assunto da semana parece ser o único adotado pelos roteiristas. Nada a médio ou longo prazo.
O CQ-teste, que poderia ser muito engraçado e gancho para perguntas e respostas diversas, traz mais subcelebridades e mulheres hortifruti que pessoas que tenham algo de legal a acrescentar. “Cumpadre Washington”? Jura, CQC? Humor inteligente, onde? Talvez por ver o Marcelo Tas ali (um cara que sempre admirei na TV), ainda viva em mim uma esperança de mudança de rumo, de tratamento do jornalismo com humor na TV aberta brasileira de modo mais refinado e inteligente de fato. Transformador. Será que estou me iludindo?