Autor: Mafalda ~ 19 de junho de 2012. Categorias:Sofá da Mona.
O filme Confiar tem muitos méritos. Abordar com tamanha verossimilhança, naturalidade nas interpretações e diálogos plausíveis, um assunto tão espinhoso e doloroso: a pedofilia. Se ao assistir ao noticiário você sempre se pergunta como garotas aparentemente inteligentes acabam se tornando vítimas, recomendo que assista o filme. De modo geral, a teia de sedução tramada pelo pedófilo está toda lá. O comportamento e o sentimento de culpa x desejo, tabu dentro do tema, é brilhantemente revelado na interpretação da personagem Annie.
O filme é realista. A cena final, quando os créditos estão passando, taão banal, torna-se assustadora para os que assistiram até ali. Crueldade em dose máxima na era da internet de jovens que encontram na tela do computador um olhar interessado, cúmplice, amigo (?). Mas em meio a isso, está o pedófilo (!), mestre na sedução.
Não há chance alguma para a vítima se a mesma der um passo em sua direção. Como saber ao que nossas crianças e jovens estão expostos? Na real, por mais que existam os mecanismos de “parental control” na vida, nunca teremos 100% de certeza. Precisaremos confiar nos valores e na educação dada. Confiar… Das cicatrizes deixadas nas vítimas da pedofilia, nenhuma é mais profunda e cruel que a perda da capacidade de confiar. De ver que o amor sincero que sentiu (em algum momento) era apenas parte da desordem mental de um adulto. Da ingenuidade perdida sem se dar conta.
Como lutar contra um agressor que seduz e toma conta do coração de sua filha? Por que esta garota confia mais neste “amor” do que no amor dos pais e amigos? São reflexões, dentre tantas, que me ocorreram ao assistir o filme. Recomendo muito. Para assistir com os jovens, conversar, perguntar. Aproximar-se. Será? Alguma luz? (Em cartaz no Telecine Premium)
Autor: Mafalda ~ 22 de maio de 2012. Categorias:Sofá da Mona.
Chamo de “confortáveis” alguns filmes que seguem uma fórmula conhecida, com todos os clichês do mundo, porém bem feitinhos na medida do possível. A Possuída (Telecine Premium) – The New Daughter, (2009) – é um filme de terror nestes moldes. Poderia ser visto até como um catálogo, um pour porrie do simbolismo e das histórias mais conhecidas no gênero.
Temos de tudo um pouco: garota possuída por um espírito atormentado, túmulo indígena, bonequinho vudú modelo indígena, alçapão, escuridão, cientista, babás e um pai assustado, um casa com uma “história” bizarra no passado… A lista é imensa. E não importa. É um filme confortável.
Se um dia nossa querida Euba quiser se arriscar a um filme de terror (sem fechar os olhos), seria um bom começo. Além do mais, devemos admitir que o senhor Kevin Costner frequentou a Academia Paul Newman de envelhecimento. Está de parabéns, um charme! Roteiro, diálogos, música… tudo bem normalzinho e previsível. Filme para TV, mas tudo bem porque às vezes é o que queremos. Não ter que pensar muito, não ter que se assustar muito. Então é isso: A possuída é terror em tom pastel.
O outro modo de assistir A possuída é encarar como uma visão surrealista e simbólica sobre a adolescência e o conflito entre pais e filhos nesse período. A escuridão em que penetra o jovem é a mesma em que se encontra o pai e a mãe no lidar com este adulto em formação. E muitas vezes somos mesmo tomados, possuídos de sentimentos, desejos, medos, euforia, tristeza… Pobres pais, nem o Google dá conta de suas dúvidas.
Se você tivesse acesso a uma droga capaz de torná-lo uma potência cerebral, alguém imbatível em qualquer setor ou no trabalho que gosta, você experimentaria? Eu me adianto e respondo que sim, eu super tomaria o aditivo. Se pudesse tudo, se tivesse todas as chaves para quaisquer portas, escolheria dedicar-me ao cinema. Mais especificamente, animações. Ou talvez me dedicasse a algum projeto de resgate e abrigo de animais… Espera aí! Eu posso fazer ambas as coisas. Sucesso garantido. O mundo é ridiculamente óbvio para mim.
O filme Sem Limites (de 2011, em cartaz no Telecine Premium) mostra a trajetória meteórica de ascensão do escritor Eddie Morra (Bradley Cooper em excelente atuação com Robert de Niro como coadjuvante) que em meio a um bloqueio criativo conhece o NZT. Uma droga sintética que dispara a contagem de seu QI. Que promove o uso de 100% de sua capacidade mental.
A trajetória escolhida pela personagem Eddie Morra me causou identificação. Qual seria o maior poder dentro de nossa realidade? Mudar leis, criar novas, mudar a realidade das pessoas? Tornar o mundo um lugar melhor para todos? Ou esse sucesso todo seria relativo? Quer dizer, a sensação de sucesso, de superação só é percebida por que existe o fracasso? Se todos fossemos vencedores, o que nos moveria? Despreocupados, seriamos versões melhores de nós mesmos? Seríamos mais solidários, por exemplo? Tenho curiosidade. E, bem, esses são apenas alguns pensamentos que me ocorreram ao rever este filme.
Para quem curte um filme que gera assunto, até mesmo em antigos casais apáticos, fica a dica. Os simbolismos, analogias e metáforas são prato cheio. O argumento do filme supera seu roteiro. E aí que se você estiver com amigos e algumas biritas, o papo será antológico.
Parte muito importante para mim em qualquer filme é a trilha sonora. Ela pode comprometer um filme. Não é o caso aqui. Adorei a trilha sonora. Vale prestar atenção na última música.